sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

REFLEXÕES

Participei, pelo segundo ano consecutivo, do Natal Solidário organizado pelo mandato da vereadora Vanessa Vasconcelos (PMDB) em diversos bairros de Belém e em algumas ilhas. E voltei a sentir, como no ano passado, uma emoção diferente.

Nunca antes havia feito isso, por entender que essa prática não passava de assistencialismo, uma caridade exibicionista e inconsequente, que em nada ajudavam a mudar a realidade de sofrimento e carências em que vivem as crianças atendidas e suas famílias. E realmente não mudam!

Sempre fui crítico dessas práticas. Mas, ao vista essas comunidades carentes, ao ter contato com essas famílias, ao ver aqueles rostinhos sofridos, voltei a experimentar o sentimento da indignação com as causas de tudo aquilo.

Desde que deixei o bairro do Jurunas, em 1990, onde morei por nove anos, não via situações de tamanha miséria. Não se trata de pobreza, mas de miséria, mesmo. E esta estava estampada nos rostos de muitas daquelas crianças: seus rostos expressavam tristeza, dor, certamente que pela falta de coisas cotidianas básicas, como a alimentação regular, ou por conta de alguma violência. Muitas tinham marcas nos braços e pernas. Em alguns, ferimentos. Alguns eram magrinhos, os olhos saltados, a barriga destacada, denunciando subnutrição e condições de moradia precária. Isso me chamou atenção nos eventos realizados no Bengui, em Icoaraci e, ontem, em Moqueiro.

Enquanto os brinquedos eram distribuídos, veio-me à  mente a lembrança de que certamente os pais daquelas crianças votaram em políticos que lhes prometeram drenagem e pavimentação asfáltica nas ruas onde moram, escolas e creches de qualidade, médicos e remédio nos postos de saúde do bairro, emprego, água potável, casas, ... Promessas que certamente não serão cumpridas.

Na campanha passada, soube de candidatos do PT - que poderiam ser do PMDB, PCdoB, PSB ou outro qualquer, pois não há mais diferenças entre eles - que doou cimento, milhares de tijolo e telha, além de R$ 5 mil, para líderes comunitários, corrompendo-os, em troca de apoio político e votos - e certamente que a maioria das pessoas que, nos dezembros, recebem visita do Papai Noel para a entrega de presentes votaram em muitos desses candidatos (no caso de Vanessa, pelo menos, sei que não houve compra de voto. As entregas de presentes são feitas apenas em comunidades onde o mandato dela já tem trabalho comunitário).

Nesses casos, o que parece solidariedade não passa de ato canalha, oportunista, para agradar eleitores, cativá-los, de olho nas próximas eleições - apenas isso -, mantendo-os nas condições subumanas em que vivem, mas estimulando-os a acreditar que um dia suas vidas vão melhorar.

Nas visitas de que participei, vi o brilho nos olhos de muitas daquelas crianças, seja pela presença do Papai Noel, seja pelos presentes que recebiam, ou os dois - muitos sequer tinham visto o velho Noel algum dia.

Em meio à indignação, convenci-me de que ainda é preciso muito trabalho para se mudar essa realidade. Noel e os presentes fazem brilhar os olhos das crianças e as fazem sorrir. Mas será preciso muito mais para que aquelas crianças e seus pais se tornem cidadãos.

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