quarta-feira, 29 de julho de 2015

NO PEMA, A HERANÇA DOS PALEOÍNDIOS SOB AMEAÇA

O Pema foi ciado em 2001 e guarda sítios arqueológicos que ajudam a explicar o processo de ocupação humana do continente americano, mas segue sem as obras prometidas, sem fiscalização ou qualquer controle dos visitantes. Esse patrimônio está ameaçado

Os sítios arqueológicos do Parque Estadual Monte Alegre (Pema) atrai milhares de turistas, todos os anos. Pesquisas arqueológicas encontraram lá as marcas mais antigas da presença do homem na Amazônia. A arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt, autora do trabalho mais completo sobre esses povos, no anos 1980-90 do século passado, denominou-os de “paleoíndios amazônicos”. Algumas das marcas encontradas pela pesquisadora têm mais de 11 mil anos.

No sábado, 25, os aventureiros da Expedição Maicuru não puseram seus caiaques n’água: eles subiram as serras do Pema em busca dessa herança deixadas pelos primeiros homens da Amazônia. Eles foram à Caverna da Pedra Pintada, na serra do Paytuna, um dos focos principais das pesquisas de Anna Roosevelt, onde ela fez escavações e encontrou uma ponta de flecha de pedra, considerada a peça mais antiga herança deixada pelos paleoíndios. As paredes da caverna são ricamente decoradas com pinturas rupestres.

Eles também visitaram um belo painel de pinturas localizado próximo à caverna da Pedra Pintada, além da Pedra do Pilão e outros mirantes naturais existentes no Pema. Do alto destes, vê-se o rio Amazonas, dezenas de lagos, igarapés, paranás, além da cobertura florestal da região, majoritariamente de cerrado. São locais que impressionam pela beleza cênica e panorâmica, pelo vento forte, pela natureza bem preservada que ainda predomina.

Mas é uma pena que o Pema, uma unidade de conservação estadual criada em 2001, ainda viva efetivamente sem qualquer proteção, aberta ao vandalismo, um desrespeito criminoso a um patrimônio histórico-cultural de valor inestimável. Várias de suas pinturas apresentam danos causados por visitantes, além de pichações em monumentos naturais, como a Pedra do Pilão.

Uma pena!

EXPEDIÇÃO MAICURU: AVENTURA E EMOÇÃO NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA


Em caiaques, aventureiros de Belém, Manaus, Santarém, Aveiro e Bujaru percorreram mais de 90 km do rio Maicuru e outros afluentes do rio Amazonas, em Monte Alegre. Lá, eles também conheceram locais onde viveram os primeiros habitantes da Amazônia, os “paleoíndios”.

Ainda de longe, a cerca de meia hora antes da chegada, já era possível se ouvir os fogos e o som da recepção que os moradores locais haviam preparado aos aventureiros da “Expedição Maicuru: Canoagem e Trekking no Coração da Amazônia”. Aqueles sons mexeram com a emoção dos onze canoístas, animando-os a remar ainda mais. Do barco de apoio que os acompanhava também foi lançado um rojão.

Era a senha da confirmação: “Eles estão chegando!” Era o dia 24 de julho. Eles já remavam há dois dias, estavam exaustos, o cansaço era visível em seus rostos. O sol, até então inclemente, havia arrefecido um pouco, pois já passava da metade da tarde. A proximidade do próximo ponto de parada, na comunidade São Diogo, injetou ânimo em todos. Sem que percebessem, um pequeno barco veio encontrá-los. Nele, três mulheres – uma delas com uma criança no colo e um guarda-sol vermelho –, um rapaz e um garoto anteciparam a recepção aos aventureiros. Uma cena emblemática da cordialidade daquele povo.

Na margem do rio, em frente a uma escola pública, rojões estouravam, o locutor anunciava a chegada dos canoístas, dava-lhes boas vindas, e a música-tema do filme “Carruagens de Fogo” tocava ao fundo. Eram cerca de cem pessoas, que acorreram ao ponto aonde os canoístas encostavam seus caiaques. Aplausos para eles, gritos de saudação. Os celulares foram acionados para registrar aquele momento inédito em fotos e filmes. Foi uma recepção emocionante.
Recepção festiva dos moradores da comunidade São Diogo emocionou os aventureiros

“Emocionante, sem igual! Nunca vivi isso antes!”, disse Rodopiano Rocha da Silva, 38 anos, natural do município de Bujaru, na região nordeste do Pará, um dos canoístas participantes.

A organização e coordenação do evento foram do canoísta Pedro Paulo Sousa. A Expedição Maicuru teve apoio da Prefeitura de Monte Alegre, através da Secretaria Municipal de Turismo (Semtur).

Águas tranquilas – A chegada à comunidade São Diogo, distante cerca de 30 km da cidade de Monte Alegre, foi um dos momentos de grande emoção vividos pelos aventureiros da Expedição Maicuru, que começou no dia 23 de julho e se encerrou no domingo passado. Foi o ponto de chegada no segundo dia da expedição, que começou na comunidade Cuiabal, na margem direita do rio Maicuru, às 9h do dia anterior (23/07). Foi o primeiro evento de esporte de aventura no “Rio dos Balateiros de Monte Alegre”, no trecho abaixo da ponte da rodovia PA-254 até sua foz, no Lago Grande de Monte Alegre.

A largada deveria ser junto à ponte da PA-254, mas foi alterada para se evitar as fortes corredeiras do Panacum e da Muíra e também para permitir que o final da viagem se desse na cidade de Monte Alegre.
Pedro Paulo Sousa, coordenador do evento

“Foi uma decisão comandada pela prudência, ninguém conhece esse rio como os balateiros do passado, mas sabemos da sua força e dos perigos que ele representa. Preferimos, então, navegar pelo trecho de águas tranquilas do rio”, afirmou Pedro Paulo Sousa, o coordenador do evento.

Canoagem – Desde a largada, na comunidade Cuiabal, até a cidade de Monte Alegre, foram 91 quilômetros percorridos no rio Maicuru, na foz do rio Paytuna e trechos do Lago Grande de Monte Alegre e do paraná Gurupatuba, que banha a cidade de Monte Alegre.

No primeiro dia, a saída rumo ao local da largada se deu pouco depois das 6h, em ônibus cedido pela Prefeitura de Monte Alegre. O percurso incluiu o trecho inicial da rodovia PA-255 e passou por estradas vicinais que cortam assentamentos de pequenos agricultores locais. Os caiaques foram em um caminhão.
Edval Lemos (com chapéu de palha) relata a Pedro Paulo Sousa detalhes de como era a vida dos balateiros do Maicuru. Uns fizeram dinheiro, outros só acumularam dívidas, enquanto muitos acabaram enterrados na comunidade Cuiabal

No Cuiabal, enquanto os caiaques eram preparados para a viagem, alguns canoístas conheceram e conversaram com o ex-balateiro Edval Lemos, 84 anos, doze dos quais vividos na exploração da balata. Esta, na primeira metade do século passado, era um produto disputado por grandes companhias estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos e da Inglaterra. Ela fez a riqueza de muitos, mas também trouxe a morte para centenas deles.

“Aqui no Cuiabal tem um cemitério onde foram enterrados aqueles que, doentes, não conseguiram chegar a Monte Alegre. Aqui morreram, aqui foram enterrados, sem qualquer cerimônia”, disse o ex-balateiro.

Cuiabal era um dos pontos de partida rumo aos balatais do norte de Monte Alegre e também a primeira parada deles, na volta. “Na época, isto aqui era muito animado, corria dinheiro, tinha até puteiro”, afirmou Edval, também sem cerimônia.

Antes das 9h, os barcos já estavam n’água. Eles se apressaram, pois precisavam chegar ainda com sol ao primeiro ponto de parada, na comunidade Cauçu, 25 km abaixo, junto à ponte da rodovia PA-255. Remaram tanto que chegaram ao local com o sol ainda alto. Deu até tempo para um rapel na ponte, o que atraiu a curiosidade de moradores locais.
Foram quase 91 km de canoagem, extensão percorrida em três dias

À noite, depois de um jantar farto e variado oferecido pelo dono do retiro Varlin, os aventureiros se reuniram em torno de uma fogueira junto à margem do rio para “jogar conversa fora”. Entre os “causos”, relatos sobre cobra grande, visagem, lobisomem, de mulher que vira porca, ataques de onça e de piranha ... A guarnição da PM que visitou o local tratou de cuidar de uma ocorrência na vila da Canp (Colônia Agrícola Nacional do Pará), próxima dali. Depois, silêncio geral, até que todos foram acordados, lá pelas 5h30, pelo cantoria barulhenta de um bando de guaribas.

No dia seguinte, partiram cedo, pois precisariam percorrer quase 36 km até a comunidade São Diogo. Nesta, à noite, os aventureiros se reuniram na escola municipal para assistir a dois filmes: “Imagens de Gurupatuba” (o termo se refere ao primeiro nome da vila de Monte Alegre, o mesmo do povo que habitava o local), de Fernando Segtowick, sobre a história do município, e “Balatais de saudade”, de Gavin Andrews, uma narrativa sobre a saga dos balateiros, com depoimentos de vários deles.
O ex-balateiro Antonio Machado, 91 anos, emocionou-se ao ver as imagens do segundo vídeo. “Era assim mesmo, era assim mesmo”, repetia ele ao canoísta Alfredo Barreto, 45 anos, ao ouvir os relatos, no vídeo, sobre as dificuldades e sofrimentos vividos pelos balateiros ao longo de suas vidas.

“Impressionante, eu moro aqui na Amazônia e não sabia de toda essa história dos balateiros do rio Maicuru”, afirmou Douglas Bícego, 51 anos, após a exibição dos vídeos. Um dos canoístas da Expedição, ele é um mineiro que há anos mora na cidade de Manaus. “Estou maravilhado com tudo isso!”.

O último trecho da canoagem foi entre a vila de São Diogo e a cidade de Monte Alegre, no dia 26, uma distância de mais de 30 km. Eles saíram logo cedo, depois de se despedirem dos moradores. Em parada breve na comunidade Paytuna, almoçaram na casa de Luiz Gonzaga Andrade, que fez questão de assar peixe para todos. Toda a família do líder comunitário foi muito cordial com os aventureiros.

Eram pontualmente 17 horas quando eles chegaram à Estação Hidroviária de Monte Alegre, onde foram recebidos por meia centena de pessoas, com rojões e aplausos. Estava encerrada a Expedição Maicuru.
Da comunidade Paytuna, os canoístas puderam visualizar a cidade de Monte Alegre. A Expedição Maicuru se aproximava de seu final

Para a maioria dos participantes, o evento foi a melhor aventura de canoagem que já fizeram na vida. Felizes com o resultado, já pensam em novo evento, em novembro, em pleno verão, com as águas do rio Maicuru em seu nível mais baixo.

“Foi uma das melhores expedições de que já participei”, afirmou Pedro Paulo Sousa, com a experiência de quem já navegou nos rios São Francisco, Araguaia, Tapajós e Arapiuns e atravessou várias vezes a Baía de Guajará, em Belém.

O resultado final também agradou a Prefeitura de Monte Alegre. No sábado, 25, enquanto os aventureiros foram ao Pema, a Prefeitura ofereceu vários serviços públicos à população da comunidade São Diogo e arredores.
“Monte Alegre tem atrativos turísticos importantes e valiosos, e sabemos o quanto um evento como a Expedição Maicuru pode ajudar a divulgar nossas potencialidades e nos ajudar a desenvolver o turismo sustentável”, afirmou o secretário local de Turismo, Eliselmo Picanço.