quarta-feira, 6 de julho de 2011

TODAS AS CARTAS DE DEMISSÃO SÃO RIDÍCULAS

Na coluna do jornalista Reinaldo Azevedo, no portal Veja.com, hoje, com o título acima, sobre a crise que levou à demissão do ministro Alfredo Nascimento:

Todas as cartas de amor são ridículas, ensinou o mestre Fernando Pessoa, que escreveu, diga-se, algumas cartas de amor… ridículas! E todas as notas de demissão também são. Notem que sempre se tenta passar a impressão de que o sujeito está deixando o cargo por excesso de qualidades, não pela falta delas. Que o Ministério dos Transportes era o cofre-da-mãe-joana, ninguém duvida. Ainda que Nascimento seja inocente como os lírios do campo, imaginem o que não se deu lá desde quando comanda a pasta, no governo Lula… Ladrão ou incompetente, pouco importa, não serve para cuidar de um setor estratégico para o Brasil. A maior evidência disso é que a sua área é uma das que se destacam na crise da infraestrutura do país. E não vou deixar passar porque não é o caso: quando Dilma era a gerentona do governo Lula, o Ministério dos Transportes, objeto de atenção do tal PAC, estava sob a sua alçada.

É claro que não basta demitir Alfredo Nascimento. É preciso também investigar e punir os larápios. Agora virou moda dizer que os próprios sigilos estão à disposição. Podem ajudar aqui e ali, mas, em si, provam cada vez menos por uma razão puramente lógica. Os inocentes não costumam dominar os expedientes dos culpados, mas os culpados conhecem os expedientes que auxiliam os inocentes. Quem põe, de fato, o sigilo à disposição sem que a Justiça nem precise determinar a sua quebra, sabe que de tal mato não sai coelho. Não estou dizendo que Nascimento seja culpado; só estou afirmando que a quebra de sigilo, por si, não significa prova de honradez.

Método - A questão, agora, é saber que método será empregado para nomear seu substituto. Essa primeira chacoalhada nos Transportes certamente servirá para economizar alguns milhões de reais. Mas há duas questões essenciais: a) é preciso punir os bandidos que enfiaram as mãos nos cofres públicos; b) é preciso criar um método que impeça a continuidade da sem-vergonhice. Nesse caso, a primeira providência seria, sim, tirar o Ministério dos Transportes das mãos do PR. É evidente que, nesses anos, o partido criou, assim, uma hiperplasia só para cuidar desses assuntos. Ora, se a pasta ficar com esses patriotas, de onde aparecerá o nome para conduzi-la? Justamente do abscesso.

Dilma acomode o PR onde bem entender se considera vitais os votos do partido. Uma coisa é certa: caso mantenha o Ministério dos Transportes na cota desses patriotas, estará combatendo os corruptos, mas não a corrupção.

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

Nenhum comentário: