Surpreendido pelos fatos, sem uso de armas nem derramamento de sangue, D. Pedro II assinou carta anunciando o exílio. Era o fim da Monarquia: o Brasil era uma República
Segundo reportagem do jornal Diário do Pará, edição de hoje, poucas pessoas, em Belém, sabem do que se trata o feriado desta segunda-feira. A repórter Adriana Pereira chegou a essa conclusão depois de repetir a pergunta a diversos transeuntes no movimentado mercado do Ver-o-Peso e na Praça da República.
Se representam a maioria da população ou não, o certo é que estes nada sabem que o Brasil, naquele 15 de novembro de 1989, uma sexta-feira, acordou monarquista e foi dormir republicano.
Jamais houve na História do país uma ruptura política tão inesperada. Na véspera, ninguém poderia prever que o reinado viria abaixo. Ao cair da tarde de quinta-feira, D. Pedro lI, 63 anos, fugindo do calor carioca, estava posto em sossego no palácio de Petrópolis, onde escreveu seu habitual soneto diário. No mesmo momento, o marechal Manoel Deodoro da Fonseca, 62 anos, encontrava-se em Andaraí, na casa de seu irmão, o oficial-médico João Severiano, tentando recuperar-se de um de seus habituais ataques de falta de ar.
Menos de 48 horas depois, os detalhes eram semelhantes, mas as instituições estavam de pernas para o ar. D. Pedro lI, detido no palácio imperial do Rio de Janeiro, escrevia não um poema, mas, com a ajuda do barão de Loreto, a carta em que acatava a ordem de exilar-se: "Cedendo ao império das circunstâncias, resolvo partir com toda a minha família para a Europa amanhã". Na mesma hora, Deodoro ia para a cama, tão fortes eram os seus achaques. Mas com falta de ar e de cama era o chefe do governo provisório, o homem mais poderoso do pais.
Por mais que alguns republicanos agora queiram provar que a monarquia caía de podre, que a República era um anseio popular e que o movimento pela sua proclamação estava organizado até os íntimos detalhes, os fatos foram bem diferentes. O imperador e a princesa Isabel eram respeitados e admirados pela gente humilde, que no ano passado deixou de ser escrava. O Partido Republicano conseguiu eleger apenas dois deputados nas eleições de agosto, e, nas ruas, as simpatias que conseguia angariar eram episódicas e pouco eficazes. Quanto à organização das forças que derrubaram de supetão a monarquia naquele dia, elas lembravam mais uma geringonça andando aos solavancos que um trem bem azeitado.
O dia 15 foi repleto de lances de confusão, de líderes que deram shows de hesitação (a começar por Deodoro), de liderados que acreditaram em boatos e saíram de quartéis pensando que estavam apenas derrubando o ministério. É quase um milagre que a República tenha sido proclamada naquela sexta-feira.
Fonte: http://veja.abril.com.br/historia/republica/queda-imperio-velha-monarquia.shtml
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