Piteira,
O encontro dos ex-seminaristas, na quinta passada, 20 de janeiro, sem dúvida foi bem diferente de todos que já fizemos: ambiente agradabilissimo, conversa "apurada" e "avançada" pelo avanço das idades, das experiências. As recordações, as risadas, as histórias que se transformam em piadas. Mas, um detalhe importantíssimo me chamou a atenção: o tipo de bebida na mesa - Caipirinha!!! Uma caipirinha acompanhada com copos d’ água ao lado. Já pensou: beber capirinha e tirar gosto com água!! É a idade, preservando a saúde da ressaca do dia seguinte.Todos tomando caipirinha. Só o Zé Maria Bigorron não bebeu, estava medicado! E, ainda tinha algo diferente: ‘caipirinha com adoçante! Quanto evoluímos! Naqueles idos de seminário/Tiagão/IPAR, o adoçante era o açúcar mesmo de segunda, aquele açúcar pesado, grosso não era o refinado, não! (mas era gostoso!!).
Olhando aquela cena, fui buscar no túnel do tempo o momento em que comecei a aprender a beber cachaça pura (pureba). A época era no Tiagão. Bebiamos bastante caipirinha, era mais barato! Teve um dia que exagerei (acho que coloquei mais açúcar do que devia). No outro dia estava "estragado". Não podia sentir o cheiro de caipirinha que o estômago embrulhava. E agora?! Beber era uma excelente diversão, já que não podíamos namorar, nem ir a festa dançar. A bebida era permitida, então....Eis que um belo sábado, próximo ao meio dia entro na sala de almoço, e quem encontro com uma garrafa de tatuzinho rabo fino? Rosemiro Canto, vulgo Miro ou para os mais íntimos “Quadrado”. Miro me chamou a parte, pediu para sentar e foi falando: “sei que estás enjoado, não suporta mais caipirinha, então experimenta a “branquinha”. Ai ele foi me ensinar, muito simples: “corta uma fatia de limão, coloca dois dedos de birita no copo, respira fundo, segura o ar ai, e solta a bicha na garganta, engoliu, agora pega a fatia de limão e aperta na boca, nem sente o ardume do líquido precioso!”. Aprovei a receita e a partir daquele dia, adeus caipirinha, só pureba. Era bom porque não dava ressaca no outro dia. Depois de algum tempo, claro, voltei a tomar caipirinha. Miro, não pudeste ir ao nosso encontro, mas estavas presente naqueles líquidos preciosos que burbulhavam nos copos daqueles “cinquentões”.
PARTE II
Outra lembrança forte, olhando os copos com caipirinha, me veio a mente. Já estávamos em Belém. Todo sábado pela manhã havia um ritual: comprar cachaça a granel no ver-o-peso. E ninguém se recusava a carregar aqueles garrafões de 5 litros cheio de cachaça. Não havia corpo mole ou preguiça! Num belo sábado, eu e Piteira (poderia ser outro?), mesmo com uma pequena ressaca da sexta, fomos escalados para descer a rampa do forte do Castelo e “passear” no ver-o-peso. Padre Luis Pinto determinava: “tragam a melhor cachaça, não vão trazer a baldeada”. Lá vamos nós.
Naquele época, muitos barcos vindos de Abaetetuba e Igarapé-Miri aportavam no “verosca” carregados de galões de cachaça para comercializar. Então começava nosso ritual. A gente, até, já era conhecido dos barqueiros! “ Lá vem eles, gente boa!”. E começava a gritaria no bom sentido: ‘aqui tá a boa, prova aqui; essa aqui tá novinha, vem cá, prove, prove’. Respondiamos: “calma pessoal, vamos ter que provar pra saber qual é a boa mesmo!”. E ai começa o nosso ritual. Na frente tinha uns 10 barquinhos. O primeiro oferecia na cuia primeira dose: bebíamos. ‘Que tal, essa boa’. “Mas vamos ter que continuar pesquisando...” E lá íamos nós de barco em barco, de cuia em cuia...até chegar no último barco. E agora, Piteira! Na tua opinião, qual é a boa? – Acchhooo que é... Ai eu replicava: “Acho não, Piteira, não tem mais achismo, já bebemos, já provamos todas, temos que escolher”. Ai os barqueiros: ‘ E ai, a minha é da boa, a minha que é....”. Num ar de lucidez, baixou o espírito franciscano no Piteira. “Vamos fazer o seguinte, nós provamos cachaça de 10 barcos, né, tu tens ai um garrafão de 5 litros e eu tenho outro de 5 litros; então pra gente não ficar de mal com nenhum barqueiro a gente compra um litro de cada um. Belllezzza.” Ai corremos pro abraço! Todos ficaram satisfeitos com a gente.
Chegando no IPAR, padre Luiz já estava agoniado, garganta seca, nervoso “mas vocês demoraram muito, já estava preocupado”. Piteira foi logo falando “é que hoje, padre, tivemos dificuldade de escolher a boa, todas eram boas, ai trouxemos um litro de cada!!”.
Dornélio Silva
Um comentário:
Dornélio,
essa desenterraste lá da parte mais profunda do hipocampo (é isso mesmo?), da memória já adormecida, quase deletada. Boa, essa!
É bom recordar aqueles sábados, quando nos encontrávamos na quadra do IPAR para uma bola - na verdade, creio, para expurgar os excessos das sextas-feiras - e novas caipirinhas e churrasco, sob comando do frei Luis Pinto.
Eduardo no violão - eu também dava minhas palhinhas -, Luis Pinto naquele teclado de sopro, o Boca-de-Peixe no cavaco, o Téti (Antônio João) na marimba e todos como vocais.
A vida não tinha pressa e corria mansa, mansa, até que, na manhã seguinte, o frei Pedro Amen ou o Roberto Miziko ia celebrar missa pra nós, lá na casa da Pariquis.
Olha, se cada um escrever um pouco dessas hitórias, o livro vai ser grande demais.
Abraços.
Piteira
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