sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

OCÉLIO MORAIS COMENTOU "O ENCONTRO - PARTE I"

Sobre a postagem "O Encontro - Parte I", o juiz trabalhista, ex-seminarista e amigo e longa data enviou, por e-mail, o seguinte comentário:

"Destinos cheios de razões e de emoções.

Olha como é o destino. Ou os destinos. Nossos destinos.
Destinos que não imaginávamos em nossas pueris infâncias e adolescências.

Destinos que foram sendo cruzados no interior do coração amazônico (cheio de famílias pobres em cidades igualmente pobres).

Destinos escritos com histórias incríveis.

Lá, nas infâncias e adolescências, destinos reunidos pelas mãos da Igreja Católica que, sob os influxos do Vaticano II (61/62), que rompia com o arcaísmo da Conferência de Medellin (1968) e queria porque queria (porque precisava, para ser historicamente correto) formar clero autóctone.

E lá estávamos nós, meninos amazônicos, (“pescados como homens”) para o projeto futuro da Igreja Católica na Amazônia.

Seríamos os padres dos novos tempos. Aqueles que não celebrariam missas de costas aos fiéis. Nem rezariam missa em latim. Padres que falassem a lígua do pobre. E que vivessem como tal, franciscanamente, como na origem. Ou pelo menos que a opção fosse real. Concreta. Efetiva. De verdade. Como verdade verdadeira.

Então, o destino nos uniu, meus amigos, sob esses influxos: o da reforma da Igreja e da necessidade desta se expandir pela Amazônia (no nosso caso) e como padres amazônidas.

E olha que nem sabíamos disso. Mas o destino é o destino.
Escreve sempre de forma curiosa.
Eu, de minha parte, confesso isso!

O destino nos reuniu e nos colocou frente à frente.
Ora no seminário São Pio X (Santarém). Ora no Tiagão eTiaguinho (Santarém). E mais tarde, nas casas de formação superiores em Belém, onde estudávamos Teologia, no IPAR.

Aqui, já sob os ventos inovadores da Conferência de Puebla (1979). Então, as coisas começaram a mudar.
E os nossos destinos ganharam novas linhas: o movimento político e a atividade pastoral inseridos nas comunidades.

Atividades que se misturavam.

O vetor era a teologia da libertação. E lá estávamos, nós, nas periferias de Belém (cheias de lamas e de ocupações irregulares, sem vida digna) colocando em prática a opção preferencial pelos pobres. Participando de movimentos estudantis e políticos. A ditadura ainda não havia acabado. Ou nos movimentos de jovens e nas comunidades.
Era necessário se inserir no movimento laico como agentes de transformação.
E nós, agora jovens idealistas, estávamos lá, escrevendo páginas de nossas vidas.
E com uma coisa muita legal. Muito especial: nossos destinos cada vez mais entrelaçados.
Agora, não só pela pelos contextos teologais, mas também políticos.
Isso mexeu com nossas mentes. E com nossos corações.
As mentes (ou razões) queriam um Estado Democrático de Direito. Justo e Igualitário.
Os corações eram preenchidos com as paixões e emoções dos sonhos imaginados, mas ainda incertos. Paixões e emoções dantes reprimidas e agora explodindo como um vulcão em chamas.
Tudo era desafiante. Como desafiante continua sendo tudo o que fazemos.
E de tudo que vivemos, pois confesso que vivi (parodiando Pablo Neruda), se não foi possível a concretização do projeto “padres amazônicos” (com nós, pelo menos), dou uma pausa, por ora, para destacar que ficou um grande legado, entre vários outros.
Um legado especialíssimo. Um legado comum: a amizade virtuosa que une fraternalmente até hoje.
Piteira, Pepê, Dornélio, Iria, Zé Maria, Sinval, obrigado pelo especial encontro. Obrigado pela amizade.
Recebam meu abraço fraternal de paz e bem.

Océlio de Jesus Morais"

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