segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

PRECONCEITO IDIOTA

Em bate-boca com moradora de área carente de Manaus, o prefeito Amazonino Mendes comete crime de preconceito

Há cerca de três ano, um homem foi morto por um amazonense, em Manaus, em meio a um conflito, pelo simples fato de se identificar como paraense. Hoje, imagens veiculadas por emissora afiliada da Rede Globo de Televisão, em Manaus, mostram o prefeito da cidade, Amazonino Mendes (PTB) em ato de pura discriminação a uma paraense moradora de uma área de risco. Em ambos os casos, manifestações deploráveis e cretinas de preconceito a paraenses.

Na cena de hoje, o prefeito manauara discute com uma moradora de comunidade onde morreram uma mulher e duas crianças foram soterradas sob um barranco. Retrucando o prefeito, que afirmou que eles estavam morando em área de risco, a moradora afirmou que "a gente está aqui porque não tem condição de ter uma moradia digna". O prefeito respondeu: "Minha filha, então morra, morra". Naquele momento, ele perguntou de onde ela era, ao que respondeu que era paraense. De pronto, com desdém e encerrando a conversa, ele gruniu: "Então pronto, está explicado". E isso tudo ao vivo, na íntegra, em jornal da TV Amazonas.

Sou mocorongo, natural de Santarém, e, desde minha mais tenra idade, ouço histórias de discriminação sofridas por paraenses na cidade de Manaus.

Com a implantação da Zona Franca de Manaus (ZFM), em 1967, milhares de paraenses do Oeste migraram para a capital amazonense em busca de emprego e educação superior. Hoje, cerca de 450 mil paraenses moram em Manaus, a maioria das cidades de Santarém, Óbidos, Monte Alegre e Oriximiná, entre outras.

A ZFM foi criada em 1967, com o objetivo de estimular a industrialização da cidade e sua área adjacente, como parte de uma estratégia dos governos militares para ocupar e desenvolver a Amazônia.

Tenho familiares morando em Manaus, além de outros parentes e antigos vizinhos de Santarém. Conheço outras dezenas de montealegrenses que também se mudaram para aquela cidade buscando novas e melhores oportunidades.

Não é comum ouvir histórias malsucedidas de paraenses. Relatos de conhecidos que moram em Manaus informam que nossos conterrâneos têm sido competitivos na busca e na disputa de vagas no mercado de trabalho local, desde o início da ZFM. E viria daí, da melhor competitividade dos paraenses no mercado de trabalho, as atitudes beligerantes de preconceito.

Essa é uma atitude absurda, inaceitável, detestável, deplorável, que se torna ainda mais preocupante quando assumida por um agente do Poder Público, ao vivo em um canal de televisão, o que torna o preconceito, dissimulado para a maioria, em manifestação pública com cara oficial.

É uma atitude que não merece apenas o nosso repúdio - e não apenas de nós, paraenses, mas de todos os brasileiros, inclusive da maioria dos amazonenses -, mas também providências do Ministério Público, da OAB, de entidades de defesa dos direitos humanos, entre outros.

Quando um cidadão comum é flagrado cometendo crime tão asqueroso, é denunciado, preso e responde a processo.

O que vai acontecer com o senhor Amazonino Mendes?

Para ver o vídeo, clique no link http://www.youtube.com/watch?v=6oUSfPjsAEg

Um comentário:

Anônimo disse...

Principados feudais e políticos profissionais, será mera coincidência?

Eis uma faceta, uma perversa faceta do sistema político brasileiro.
Um sistema que admite de tudo um pouco. Ou de tudo, um tudo.

Os exemplos narrados no post revelam de tudo um pouquinho ou um muito mesmo:
Do voto eleitoreiro.
Do voto comprado.
Do voto trocado por uma dúzia de “talbua – é assim que o analfabeto fala – ou por uma “perereca” (a popular dentadura).
Do voto do curral eleitoral.
De rédea.
De Cabresto.
Do voto obrigatório.
Do voto do analfabeto.

Mas também de políticos profissionais e de seus mosqueteiros (cabos eleitorais).
De políticos corruptos e de seus esquemas de corruptíveis de proteção.

Das leis que legitimam e não condenam situações dessa natureza.

Na Grécia antiga – aquela dos notáveis filósofos pré-socráticos e na pós-socrática), eram obrigatórias algumas virtudes aos homens para que fossem alçados à condição de HOMEM PÚBLICO: a coragem, a prudência, a temperança, a ética, a justiça.
Eram as chamadas virtudes cardeais.
A política e o político tinham que ter (e viver e ser) essas virtudes.

Pelos fatos narrados no post – ao que indica – os dois políticos desconhecem essas virtudes cardeais.

Mas, sua majestade (o eleitor soberano – soberano??? Hahaha...) tem culpa nisso. Tem muita culpa. Sua culpa é capital.

Se o voto fosse consciente. Se não houvesse venda de votos. Se não houvesse troca. Ahh..., as coisas seriam um pouco diferentes. Bem diferentes. Os exemplos de post seriam diferentes. .Ou começariam a mudar. E para melhor.
Quem tem dúvida de que é possível mudar, experimente mudar. Mudar para melhor. Mudar com ética e com justiça.
Com toda força teleológica dessas palavras: ética na política, justiça e bem-estar-sociais.

Respeitadas as épocas próprias, e guardadas as proporções, dois casos narrados, relembram os principados medievais.

Lá, o poder político era hereditário (herança familiar, nobreza, fortuna e proteção da igreja). Tinham castelos, símbolos do poder. E súditos temerosos. Era a receita soberana do poder absoluto.
Eram os principados quem davam as cartas.

Cá, hoje, políticos profissionais têm mansões, símbolo da riqueza acumulada. E povo preso ao cabresto do curral eleitoral. De geração em geração, passa-se o bastão politiqueiro da família. E a rede de poder e de influência republicana se espalha. Como uma praga!!! É a receita contemporâneo do poder politiqueiro que atravessa gerções.

E hoje também os políticos profissionais dão as cartas.

Principados medievais e políticos profissionais, será mera coincidência? Ou será mais um capítulo da história da dominação politiqueira?

Mas os bons políticos devem reagir. Precisam reagir. A sobrevivência democrática depende de vocês. A sociedade consciente precisa se mobilizar. O fortalecimento das conquistas democráticas depende dessa consciência organizada das ruas.

Que tal começando por acabar com o voto do analfabeto e com o voto obrigatório?
Que tal acabar com os privilégios de suas excelências e fixar apenas uma remuneração que não agrida a consciência social?
Ou quem sabe fazer da representação política apenas um relevante serviço público? Ou quem sabe limitar período (dois mandatos apenas) para suas excelências (vereadores, deputados e senadores)? Prefeitos, governadores e presidentes já têm essa regra.
E quem sabe criar um período de quarentena, como já criaram para os juízes (proibindo-os de advogar por um certo período na mesma área de jurisdição em que atuaram como magistrados).

Os bons políticos podem pensar nisso. Podem propor e lutar por isso no Legislativo. A sociedade consciente deve exigir isso. É preciso retirar da política os políticos profissionais e todas as suas raízes maléficas.
Vejam o que está acontecendo no Oriente Médio.
O aviso vem das ruas. Bate às portas. E não precisa chegar em nossos quintais.
Não precisamos ser o próximo Oriente Médio à moda latina.