quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ESCÂNDALO NA SEMA: ... E A "CHEFA" FOI CITADA NOS TELEFONEMAS

Uns garantiam que ela jamais seria citada, pois a "companherada" teria todos os cuidados necessários - eles teriam aprendido como fazer no período de militância clandestina em que viveram, fim dos anos 70, início dos 80. Mas, que nada! Descuidaram e "outros" deram com a língua nos dentes.

Refiro-me às escabrosas e volumosas revelações que, dia sim outro também, vazam das investigações sobre o escândalo na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), em curso sob comando da Polícia Federal. Ainda não é preciso o valor envolvido em tamanha corrupção, e é certo que nunca se chegará aos valores totais.

Como ilustração do mar de lama em que a Sema foi engolfada pela "companherada" petista e seus prepostos, seguem dois diálogos abaixo onde a "chefa" é citada.

Neste primeiro, o então titular da Sema, Edivaldo Pereira da Silva, que substituiu o investigado Aníbal Picanço, liga para o gerente Fernando Diniz para falar sobre a liberação do Cadastro de Exploradores e Consumidores de Produtos Florestais (Ceprof) a pedido da então governadora Ana Júlia Carepa, segundo gravação da PF. Eles mantêm o seguinte diálogo:


Edivaldo - Aqueles Ceprofs da governadora já saiu (sic) todos?


Fernando - Ela não me falou qual é o número, porra.

Edivaldo - É aqueles do Índio, que o Índio apareceu aí contigo, porra.

Fernando - Não, aquele já saiu, porra.

Edivaldo - Aquele é da governadora.

Fernando - Não, ali eu lhe disse que era o seguinte: que eram dois Ceprofs que ela queria que fosse desbloqueado, mas ela não chegou a me passar o número, era isso que (inaudível) está aí com ela, porra.


Segundo análise da PF, Edivaldo pergunta a Fernando sobre desbloqueio de Ceprof a mando da governadora. Em diálogos anteriores, Fernando afirma que mantém seu acesso ao sistema para resolver “demandas” do governo. A análise dos diálogos pode chegar à conclusão de que se trata de pedidos irregulares de pessoas ligadas ao governo ou apoio político. Há, na melhor das hipóteses, advocacia administrativa, de vez que foi burlado a tramitação legal para beneficiar indivíduos ligados a servidores públicos.

Neste outro diálogo telefônico, Dionísio Oliveira (que, segundo a PF, representava na Sema os interesses de Sebastião Ferreira Neto, o “Ferreirinha”, presidente do Águia Futebol Clube, de Marabá),
reclama ao telefone para o "chefe" Ferreirinha que não consegue entrar no gabinete do secretário para que ele libere sete planos de manejo, porque tem “uns caras que passam na frente de todo mundo e ficam lá por horas”. Estressado, ameaçando largar a campanha eleitoral e prometendo ficar na porta para ser atendido de qualquer maneira quando sair alguém, eles travam uma longa conversa. Merece destaque o seguinte trecho:

Ferreirinha - Ela pegou o nosso. Vai sair esse nosso? (referem-se a uma servidora encarregada de agilizar um dos processos de interesse da dupla).

Dionísio - Vai sair. Tá com quinze minutos que eu vim de lá da sala dela. Tô aqui no gabinete esperando. Vou voltar lá daqui a pouco, acho que ela termina no máximo às 11:30. Aí tem essa porra e mais seis que já tá na agulha, que não tem mais coisa (nenhuma pendência). Isso aqui é daquele jeito que te falei. Se não ficar nós dois aqui, assim igual daquele outro lá, não sai.

Ferreirinha - Deixa eu te dizer. O Everaldo (Everaldo Martins, ex- chefe da Casa Civil do Estado) tá aqui em Marabá. Eu tive uma conversa com ele agora. Fiquei de voltar novamente.

Dionísio - Hum, hum..

Ferreirinha - Como o Puty (deputado federal eleito Cláudio Puty) furou em tudo que foi acordo que fez com a gente, tem uns municípios que os caras não querem apoiar ele de jeito nenhum. Eu quero saber se eu acerto umas despesas de uns municípios pra ele bancar e as pessoas de lá apoiar ele e eu.

Dionísio - Tá certo, porra. Concordo, concordo, porque o que nós estamos passando...

Ferreirinha - Aí, se fizer essa parceria ele é capaz de interferir aí, nessa e resolver algumas coisas pra gente. Tu lembra que a governadora falou que ele (Puty) resolvia coisas para ela?

Dionísio - Hum, hum.

Ferreirinha - Pode ser que ele defira lá.

Dionísio - Então vamos fechar. Tu não diz tudo, diz só um pouco, entendeu? Diz só um pouco, não diz todos os projetos. O que te falo mesmo, cara, se na semana que vem esses sete projetos PMFS for resolvido é no mínimo uns R$ 800 mil que entra. No mínimo, no mínimo, né, porque os sete dá mais de R$ 2 milhões, mas no mínimo R$ 800 mil entra pra nós, já de adiantamento. Só que, porra, os caras não enxergam isso, né? Porque aí nos tira (sic) uns R$ 300 mil lá pra chefa (segundo a PF provavelmente a governadora Ana Júlia), e fica com o outro, porra, pra poder aliviar.

Ferreirinha - Eu acho que eu vou fazer o negócio com esse cara, lá. E o negócio de Santarém tá marcado para sexta-feira, 10 h da manhã. Acho que é tu que vai nessa lá de Santarém.


Dionísio Oliveira se gabava nas conversas interceptadas de dar dinheiro para todo mundo no órgão que facilitava a vida de seus clientes. Por conta disso, era respeitado a ponto de servidores “tremerem nas bases” à simples citação de seu nome. Veja que ele, na gravação acima, para Ferreirinha que, se os projetos de manejo forem aprovados, eles (Oliveira e “Ferreirinha”) receberiam R$ 800 mil e que, desse total, R$ 300 mil “ficariam para a chefa”. Segundo a PF, ambos se referiam à liberação de dinheiro para a campanha de Ana Júlia.

Os projetos citados na conversa eram sete, todos com pendências e irregularidades, mas que seriam liberados imediatamente. Só de propina renderiam R$ 2 milhões. Na primeira gravação, o titular da Sema liga para o gerente Fernando Diniz e cobra a liberação do Cadastro de Exploradores e Consumidores de Produtos Florestais (Ceprof), afirmando que era um pedido da governadora.

A suposta interferência de Ana Júlia seria a favor de duas madeireiras. Diniz responde que um projeto já tinha sido liberado, mas o outro ainda dependia de numeração que a governadora não havia fornecido.

A investigação da PF comprovou que centenas de projetos tiveram laudos forjados. Além disso, vistorias fajutas de campo em planos de manejo eram realizadas sem que os técnicos da Sema saíssem de seus gabinetes em Belém. Bastava pagar entre R$ 5 mil e R$ 7 mil para que isso fosse feito. Quem não pagasse propina não tinha o plano aprovado. E quem já tinha também era obrigado a pagar, sob pena de não ter o plano assinado pelo secretário.

ANA JÚLIA NEGA

Ouvida pelo DIÁRIO, Ana Júlia Carepa negou que tenha feito pedidos para liberação de projetos de madeireiras. “Estou acostumada em ver meu nome usado em vão por terceiros. A federal (PF) já prendeu um homem que usava o nome do Marcílio (Marcílio Monteiro, ex-marido de Carepa, ex-chefe do Ibama no Estado e ex-secretário no governo dela).

Esse homem, cujo nome a ex-governadora disse não lembrar, se fazia passar por Marcílio quando ele era chefe do Ibama. “Eu fui acusada levianamente e depois se viu que era má fé. A imprensa nunca disse a verdade. É leviandade acusar alguém sem provas”. Ana Júlia disse ainda que, em seu governo, deu todo apoio para que a PF realizasse investigações na Sema. Sobre as conversas que envolvem seu nome, reiterou que jamais fez pedido para uma atividade irregular. “A minha postura em relação ao meio ambiente sempre foi aberta”. E arrematou dizendo que, em quatro anos de governo, teve todas as contas aprovadas, inclusive as de campanha eleitoral.

As investigações feitas pela Polícia Federal (PF) já duram mais de dois anos e o inquérito deve ficar concluído até o final deste mês. Quinze pessoas são investigadas, incluindo servidores, madeireiros, despachantes, advogados e políticos.

Fonte: www.diariodopara.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Que que é isso?? Que vergonha, vamos limpar essa sujeirada toda...