O papa Bento XVI vetou a imagem de um Jesus Cristo politizado e revolucionário em seu novo livro, lançado nesta quinta-feira em sete idiomas e no qual absolve os judeus como responsáveis pela morte do filho de Deus.
O segundo volume do livro do papa sobre a vida de Cristo, "Jesus de Nazaré - Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição", tem um profundo conteúdo teológico e, em seu prefácio, Bento XVI precisa que "não se trata de um documento de magistério" - portanto, infalível -, e sim um "percurso pessoal interior na busca do rosto de Deus".
Na nova obra, de mais de 300 páginas, o papa também rejeita a ideia de que Jesus tenha sido um "político revolucionário".
"Cristo não veio como destruidor, não chegou com a espada do revolucionário. Veio com o dom de curar [...] Não, a subversão violenta, o assassinato de outros em nome de Deus não correspondia a seu modo de ser", enfatiza.
Fonte: Agência Folha
Depois de ser tentado pelo demônio, relata o Evangelho de Lucas, Jesus voltou à Galiléia e foi à cidadezinha de Nazaré, onde havia sido criado. Lá, repetindo um costume judeu, foi à sinagoga e leu o livro do profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor". Em segida, teria dito aos presentes: "Cumpriu-se, hoje, esta passagem da Escritura que acabais de ouvir".
Assim, depois de ter-se anunciado claramente em defesa dos cegos, cativos, pobres e oprimidos (claramente, pessoas vítimas da dupla opressão exercida pelo poder romano e pela elite judaica), fico cá com meus botões a imaginar como teria reagido Jesus diante de tanta injustiça e opressão política de sua época. Teria se omitido? Teria sido um covarde diante de tanto misererê vivido por aquele povo?
Os judeus eram um povo oprimido, pobre e dominado sucesivamente por várias potências da época, mas aguardavam pacientemente a chegada do "messias prometido", aquele que o libertaria da opressão, do cativeiro, da injustiça, da pobreza, da cegueira - exatamente como anunciou o projeta Isaías. Depois de ler o livro do profeta e anunciar que aquela professia estava cumprida, os judeus devem ter pensado: "Esse é o cara!".
Jesus foi contemporâneo à construção da cidade de Tiberíades, sob ordem de Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, nos anos 20, com o recrutamento forçado de milhares de judeus, e que passou a ser a sede do governo de Antipas. A cidade foi erguida na margem ocidental do mar da Galileia.
Se, ainda hoje, as condições de trabalho na construção civil são desumanas em Belém do Pará, por exemplo, segundo inúmeras denúncias do sindicato da categoria, não é difícil imaginar ao preço de quanta opressão, injustiça, sangue e suor não remunerado aquela cidade foi erguida (Alguns historiadores chegam a ventilar a hipótese de José e seu filho Jesus terem lá trabalhado; a distância entre as duas cidades é inferior a 30 quilômetros).
Alguns historiadores relatam a possibilidade de Jesus ter mantido contatos com os zelotes - uma espécie de PT da época, mas com armas em punho, mais parecido com aquele PT dos anos 80, o original - e que Pedro, Tiago e Judas Escariotes teriam sido membros do grupo, que tinha em Barrabás sua maior liderança.
Na conflagrada Palestina da época - igual à de hoje, um pouco mais, um pouco menos -, marcada pela dominação romana opressora e sangrenta e por uma elite judaica que se locupletava e gozava das regalias ofertadas em troca da submissão e obediência aos romanos, qual teria sido a atitude de Jesus, o Messias anunciado pelo profeta? Indiferença? Omissão? Covardia?
Ora, cá entre nós e em nossos dias, em meio a tanta "mudernidade", costumamos reagir dante de injustiças muito menores que aquelas. Um trabalhador qualquer vira líder sindical de uma semana pra outra só em ver e sofrer ele próprio injustiças atrozes.
Barrabás, um simples mortal e líder dos zelotes, indignado com a opressão dos dominadores, formou e comandou um grupo armado. Jesus não teria tido alguma atitude política? Não teria, ao menos, tido contato com eles? Teria se conformado em curar cegos e aleijados, prováveis vítimas da opressão e das condições miseráveis de trabalho? Teria sido tão indiferente às injustiças e opressões que pululavam na sua ilharga?
Papa Bento, é verdade que o senhor tem o dom da infalibilidade, mas que há algo de estranho nessa história, ah, isso há! Não acredito que ele tenha pego em armas juntamente com os zelotes - afinal ele acabou preterido por estes e escapou da morte certa. Devem não ter gostado muito daquela versão "Jesus paz e amor", que o Lula copiou nos últimos oito anos aqui no Brasil.
Pelo menos é essa a versão que foi deixada à posteridade pelo Concílio de Nicéia, em 325, convocado pelo imperador romano Constantino I, que acabou determinando o Cristianimso religião oficial do império. Os evangelhos que contam essa história de Jesus e todos os demais livros da então criada Bíblia foram decididos por aquele concílio, sob os ditames de um imperador pagão.
Alguma surpreza em tudo isso? Claro que não! Afinal a história é contada sempre pelos conquistadores e dominadores - no caso, o império romano e os líderes cristãos da época, que assinaram os papéis do já tão longo casamento entre a Igreja e o Estado.
Não por acaso esta se chama Igreja Católica Apostólica Romana. E seu líder maior é o Papa Bento XVI, que acaba de negar a possibilidade de Jesus ter tido sensibilidade suficiente para tomar alguma atitude política diante das injustiças de seu tempo.
E o falível sou eu, claro! Eu admito!
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