Políticos, representantes de órgas públicos e da sociedade civil decidiram fazer por conta própria os reparos no aeroporto local
Cansados de tanto pedir e esperar, em vão, providências do governo do Estado para corrigir os problemas que levaram à interdição do aeroporto local, políticos e representantes da sociedade civil de Monte Alegre, no Oeste do Pará, decidiram realizar um mutirão para recuperar a cerca de proteção do aeródromo e conseguir sua liberação para operações regulares de vôos.
A decisão foi tomada, na noite de ontem, durante reunião realizada na sede da Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Monte Alegre (Aceima), que promoveu o encontro. Dele participara o prefeito Jardel Vasconcelos (PMDB), o presidente da Câmara Municipal, vereador José Maria Vasconcelos (PSDB), o comandante do 18º Batalhão da PM, coronel Julimar Gomes da Silva, representante do Comando da Aeronáutica, sargento J. Queiróz, o delegado de polícia Eduardo Simão da Silva, o presidente da Aceima, Mateus Almeida, e a deputada estadual Josefina Carmo (PMDB), além de representantes da sociedade e cidadãos locais.
Com a decisão, o prefeito local assumiu a responsabilidade pela reconstrução da cerca de arame, de 4.460 metros, e a Polícia Militar se comprometeu a manter guarda para impedir que pessoas voltem a danificar a cerca e a utilizar a área da pista de pouso e decolagem como acesso ao bairro do Planalto, localizado a Oeste do aeródromo. A associação comercial vai coletar contribuições financeiras entre empresários locais. A deputada Josefina propôs às gerências das agências bancárias que também se empenhem na doação de recursos para o mesmo fim.
A precariedade da cerca de proteção, destruída por vândalos em vários pontos, o que permite a invasão da área do aeródromo por pessoas e animais, foi a principal razão apontada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para interditá-lo, em abril do ano passado.
A irregularidade foi inicialmente constatada em janeiro do ano passado, durante vistoria feita por fiscais da Anac. Mesmo sem ser responsável pelo aeródromo, a prefeitura local foi notificada e repassou a informação à Secretaria de Estado de Transporte, que possui um departamento aeroviário e é o responsável pela gestão do aeroporto. E pediu providências urgentes para resolver o problema, mas nada foi feito.
Em novembro do ano passado, uma nova vistoria constatou que, além de animais se alimentando na área, moradores continuavam a usá-la como acesso, inclusive com o uso de motocicletas e bicicletas. No ano passado, um monomotor atropelou um cachorro durante decolagem, além de caso de voos clandestinos. Na campanha eleitoral do ano passado, a então governadora Ana Júlia Carepa (PT) usou o aeroporto para pouso de um helicóptero.
Com pista de 1.300m, o aeródromo foi construído, em 2000, em parceria entre o governo do Estado e a Aeronáutica. Custou R$ 1,58 milhão, mas hoje está sem uso
Transtornos - Desde a interdição do aeroporto, vários transtornos foram acrescentados à rotina dos habitantes locais. O desabastecimento das agências bancárias, a precária circulação de dinheiro em espécie e maior risco de morte de pacientes que precisam ser resgatados para Santarém ou Belém são os mais graves.
Segundo o gerente da agência local do Banco do Brasil (BB), Giovani Valente, as despesas com transporte de dinheiro para a cidade tiveram aumento exponencial. Antes da interdição, o custo de um voo de Santarém para Monte Alegre era de R$ 4.500,00. Hoje, a empresa que faz o transporte por via terrestre cobra R$ 44 mil para deslocar um carro-forte à cidade. E são pelo menos quatro viagens por semana. Além do BB, a cidade tem agências do Banpará e do Banco da Amazônia.
Ainda segundo Geovani, saques de valores maiores, geralmente feitos por empresários, deixaram de ser feitos em Monte Alegre. "Por simples falta de dinheiro, orientamos esses clientes a fazerem essas operações em Alenquer ou Santarém", informou ele, referindo-se a cidades vizinhas a Monte Alegre. Ele também admitiu que pagamentos de servidores públicos já sofreram atraso pela indisponibilidade de dinheiro.
Ainda segundo o gerente do BB, a empresa já alega dificuldades para manter o serviço, por conta das condições precárias em que se encontram as rodovias estaduais na região. "Se até o abastecimento pelas estradas ficar inviável, aí não teremos mais o que fazer", alertou.
A vice-prefeita local, Aldenora Coutinho, que responde pela Secretaria de Saúde, relatou situações de alto risco por que passam pacientes que precisam de atendimento de maior complexidade. Antes, o resgate desses pacientes era feito por via aérea, em aviões de pequeno porte. "Hoje, somente com o frete de uma lancha mais adequada para o transporte desses pacientes para Santarém, nossa despesa é de setecentos reais", afirmou.
A esse custo principal, informou ela, acrescente-se as despesas com o transporte rodoviário entre a cidade de Monte Alegre e o porto de Santana do Tapará, em Santarém, com cerca de 90 km, além dos profissionais e equipamentos de emergência que acompanham os pacientes.
"Por conta das condições precárias em que estão as rodovias estaduais, já há muito tempo, é muito alto o risco no deslocamento desses pacientes", afirmou Aldenora. Segundo ela, não houve óbito em nenhuma dessas situações.
Conscientização - Além da obra de reconstrução da cerca de proteção do aeroporto, uma intensa campanha de conscientização será desenvolvida pelas entidades civis e pela prefeitura. A principal estratégia é conscientizar a população de que a cidade não pode ficar sem aeroporto, que este é útil a todos.
"Vamos fazer uma campanha forte, com atividades nas escolas públicas, nos bairros, com a participação das emissoras de rádio, carros de som e panfletos", afirmou Mateus Almeida, presidente da entidade que organizou a reunião.
Na reunião, uma comissão de trabalho foi formada para coordenar o planejamento das ações. Ela é formada por representantes da prefeitura, de entidades civis e membros da imprensa local. Uma proposta de ações será apresentada na próxima reunião do grupo, depois do Carnaval.
Essa mesma comissão, fortalecida com a presença líderes políticos locais, vai a Santarém, no dia 12 de março, para participar de seminário promovido pela Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará (Famep). Eles pretendem incluir a restauração completa do aeroporto municipal entre as demandas da região. Eles também não descartam a possibilidade de ida a Belém para tentar audiência com o governador Simão Jatene, a ser mediada pela deputada Josefina.
"Temos consciência que esta é uma ação emergencial, que busca a imediata liberação do aeroporto municipal. Nossa meta é fazer o governo do Estado, através da Setran, assumir todas as responsabilidades com o aeroporto", afirmou o prefeito Jardel Vasconcelos. Ele afirmou que o município não tem interesse em ter a gestão do aeródromo.
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