sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

OS METALÚRGICOS PARAENSES TÊM FEITO A DIFERENÇA

O amigo Pedro Paulo enviou comentário, hoje cedo, sobre o evento promovido pela Federação Inrestadual dos Trabalhadores Metalúrgicos da Região Norte (Fetimn). Comentário, por sinal, bom, muito bom (poste logo abaixo).

Sobre ele, segue o meu comentario abaixo:

Os metalúrgicos paraenses têm se diferenciado, positivamente, por terem adotado, há anos, uma concepção menos ideologizada do movimento sindical, reduzido ao máximo o conceito marxista e beligerante de luta de classes e assumido uma postura político-sindical propositiva e dialógica com seus ex-inimigos de classe.

Lembras do que eles - leia-se Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Pará (Simetal) - fizeram, ainda no final dos anos 80, nas negociações com a Albras, em Barcarena? Eles propuseram à empresa a renúncia a qualquer interferência da Justiça do Trabalho e seu poder normativo nas negociações entre as partes, e empresa aceitou. Ou seja: comprometiam-se, mutuamente, a não ir a dissídio, a apostar na capacidade de negociação, de diálogo, e contratavam, a cada ano, um árbitro privado para dirimir dúvidas e bater o martelo em questões polêmicas e não consensuais. Deves te lembras que o hoje juiz trabalhista José Maria Quadros de Alencar foi contratado anos seguidos para esse papel de árbitro. E poucas vezes precisou bater o martelo. Foi mais um conselheiro. E o Simetal sempre conseguiu excelentes contratos coletivos de trabalho.

Essa postura do Simetal não representava renúncia da disposição de luta da categoria, de radicalização, se necessário. Não se tratava de incorporar um peleguismo refinado, light. Lembras que eles fizeram uma greve, acho que em 1990, que paralisou a fábrica por uma semana, e fizeram isso quando o diálogo ficou impossível.

Mais recentemente, assumiram uma posição política igualmente admirável. Depois da renúncia ao radicalismo ideológico, assumiram uma postura mais propositiva junto aos governos e às organizações empresariais. Ao invés de movimentos radicais em épocas de negociação trabalhista, como era comum à maioria dos sindicatos, os metalúrgicos passaram a agir de forma (pro)positiva e discutir as políticas e os projetos econômicos para o Pará. Hoje, desde a criação da Federação Interestadual dos Trabalhadores Metalúrgicos da Região Norte (Fitimn), avançaram ainda mais nesse propósito, estendendo-o aos demais estados amazônicos.

Compreenderam que não adianta reduzir a atuação sindical às campanhas salariais anuais, ou a contratar médicos e outros profissionais para atendimento social na sede do sindicato, uma prática hoje disseminada. É preciso discutir as políticas, os projetos, os modelos de desenvolvimento. É preciso compreender que não devem mais ficar na condição humilhante de figurantes vitimizadas de concepções de desenvolvimento predatórias ou de projetos que se implantaram na Amazônia como enclaves, dissociados de qualquer proposta minimamente séria de desenvolvimento regional sustentável.

O Simetal e a Fitimn assumiram o desafio de ser protagonistas do desenvolvimento da Amazônia, repartindo essa responsabilidade com as entidades empresariais e com os governos. O evento realizado na terça-feira passada faz parte dessa estratégia. Na noite daquele dia, encontrei o Odileno Meireles (lembras dele?), que foi presidente do Simetal e que há alguns anos foi deslocado para Parauapebas para organizar lá o sindicato. Hoje, o Simetal é uma entidade respeita e serve de referência pública no município. Por proposta do Simetal, hoje há naquele município uma espécie de central sindical que congrega todos os sindicatos que têm atuação junto à Vale e as empresas terceirizadas. Ele me relatou conquistas importantes e muito interessantes, experiências inovadoras na relação entre entidades de trabalhadores e empresas, como convenções coletivas conjuntas, a partir das quais cada sindicato negociar e fecha seus acordos.

Mas, apesar dos avanços que isso significa no sindicalismo regional, acho que Caminha, se por estas bandas voltasse hoje, não o perceberia: muitas outras coisas “mais interessantes” chamariam a atenção dele, como os “mensalões” do PT, DEM e PSDB, as invasões e outras ações criminosas do MST e a onda crescente e incontida da violência no País. Na verdade, poderia ter sua caravela invadida por hordas de piratas, ou sofrer um seqüestro relâmpago, ou ser vítima de uma bala perdida. Não teria tempo de escrever uma nova carta aos mandatários de Portugal. Nem mesmo teria tempo, talvez, para a abordagem de um gigolô oferecendo-lhe os serviços sexuais de uma garota.

Voltando aos metalúrgicos, acho legal essa postura deles. Eles fazem a diferença no meio de um monte de sindicalistas profissionais, muitos deles pilantras que não escondem nem se envergonham dessa condição de vendilhões dos interesses dos trabalhadores, acomodados confortavelmente sobre milhares de reais, ou milhões, que recebem anualmente das contribuições sindicais compulsórias.

Como jornalista, acompanho o Simetal há muitos anos e, mais recentemente, a Fitimn. Na condição de amigo que me tornei da maioria deles, este depoimento pode ser suspeito. Mas é sincero e, na medida do possível, isento de paixão.

Boa sorte a eles nas atuais e futuras empreitadas.

José Maria Piteira
Editor do Blog


2 comentários:

JOSE MARIA disse...

Meu caro Piteira.

Obrigado pelo registro da parte que me tocou.
Fui advogado dos metalúrgicos por muitos anos.
No último ano que advoguei, 1995, fui contratado pelos dois lados - ALBRAS e metalúrgicos - para fazer a mediação e, se infrutífera, a arbitragem. Nesse ano o advogado já foi Jarbas Vasconcelos, atual Presidente da OAB. A mediação foi bem sucedida e não foi preciso a arbitragem.
Relembro o papel importante que jogava nessas negociações o Sérgio Gribel, que liderava o comitê negociador da ALBRAS, cujo talento e honradez excepcionais nos obrigava a fazer de cada rodada um exercício de constante aperfeiçoamento das técnidas de negociação. Nesse mesmo ano de 1995 tornei-me juiz e Gribel aposentou, tendo trabalhado para o Governo do Estado daí em diante.
Gribel, que se tornara grande amigo de todos nós, nos deixou ano passado, fato que registrei no Blog do Alencar.
Gribel merece uma homenagem póstuma da ALBRAS, quem sabe denominando o Horto onde muitas das negociações foram feitas.

JOSE MARIA disse...

Meu caro Piteira,

Muito obrigado pelo link para o Blog do Alencar aí na ilharga direita.