segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

GRINGOS NA AMAZÔNIA - III PARTE

As histórias de como nossa floresta atraiu (e expulsou) quem tentou lucrar com ela. Imensos recursos, milhões de hectares, billhões de dólares e infinitos problemas.

FORDLÂNDIA - 1927:

Para criar uma linha de montagem de seringueiras, Henry Ford importou dos EUA uma cidade inteira.

PERÍODO: 1927-1945
DIMENSÃO: 10 mil km2 - quase dois Distritos Federais.
LOCALIZAÇÃO: 200 km ao sul de Santarém (PA), às margens do rio Tapajós.
OBJETIVO: extração de borracha.
EXTRAS: criação de dois núcleos urbanos (Fordlândia e Belterra), com alojamentos, casas e clubes, rede de água, escolas, estradas, porto, telefonia.
POR QUE DEU ERRADO: desconhecimento da região, revolta dos trabalhadores e o surgimento da borracha sintética.
PREJUÍZO ATUALIZADO: US$ 500 milhões.

Nos anos 20, Henry Ford produzia (ou tinha na mão quem produzia) todas as peças que iam em seus carros - menos os pneus. O látex, matéria-prima deles, já vinha tabelado do Sudeste Asiático. Furioso com essa dependência, o homem mais rico do mundo decidiu criar sua própria colônia produtora de borracha.

Quando souberam dos planos de Ford, as autoridades brasileiras trataram de incluir a Amazônia neles. Seria um alento para a Região Norte, que patinava desde o ciclo da borracha - encerrado justamente pelas seringueiras do Sudeste Asiático. Enquanto aqui a distribuição das árvores ficava a cargo da natureza, lá elas eram plantadas lado a lado, um ganho exponencial de produtividade que Ford esperava reproduzir.

John Rogge, um dos gerentes do projeto, e uma jovem seringueira.

Pelo equivalente a R$ 2,5 milhões atuais, em 1927 o empresário adquiriu no Pará um terreno do tamanho de dois Distritos Federais, a 1 500 quilômetros de barco de Belém.

Às margens do rio Tapajós, surgiu uma versão amazônica do american dream: a Fordlândia imitava um subúrbio americano, com casas brancas de alvenaria, amplas calçadas, jardins bem cuidados e hidrantes nas esquinas. Com um contrato que permitia agir sem precisar consultar ninguém, a empresa queimou 1 000 km2 de mata virgem e plantou seu seringal cartesiano – que, sem a proteção da floresta, virou presa fácil para insetos e fungos. Além disso, o terreno era montanhoso, não permitia o pouso de aviões e só era acessível a grandes embarcações durante a cheia do Tapajós, implodindo qualquer logística.

Vista da Riverside Avenue: o teto metálico tornava as casas um forno.

Boa parte dos empregados era de caboclos da região, que estranhavam os turnos rígidos e a cartilha puritana – álcool, cigarro e prostituição só eram encontrados na vizinha ilha da Inocência. Em 1930, cansados do cardápio importado de Detroit, rico em enlatados e espinafre, funcionários depredaram a propriedade. No fim, o fracasso não veio do homem nem da terra, mas da ciência. Em 1945, a borracha sintética se tornou viável, tornando supérfluo qualquer seringal. Irritado, Ford devolveu as terras e tudo que havia nelas por um vigésimo do que já havia perdido – muitas construções ainda estão lá. Falecido dois anos depois, o empresário nunca conheceu a cidade que leva seu nome.

Fonte: Érica Georgino
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/gringos-amazonia-525438.shtml?func=1&pag=2&fnt=9pt

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