domingo, 29 de novembro de 2009

COMPRA DE VOTO NAS ELEIÇÕES DO PT

Um inusitado assalto, com característica de acerto de contas políticas e pinceladas tupiniquins do famoso escândalo americano Watergate (a invasão da sede dos democratas por republicanos, em junho de 1972, que derrubou o presidente Richard Nixon), aconteceu no comitê de campanha da Democracia Socialista (DS), ala do PT liderada no Pará pela governadora Ana Júlia Carepa e pelo chefe da Casa Civil do governo, Cláudio Puty. O assalto ocorreu 20 dias antes da eleição para a escolha dos novos dirigentes dos diretórios do PT, em 140 dos 143 municípios.

O caso, narrado por uma fonte dentro do próprio PT, teve como cenário a travessa Mauriti, no bairro do Marco, em uma casa de dois andares alugada pela Cáritas Brasileira, mas cedida atualmente para a DS. Numa operação aparentemente articulada, dois motoqueiros invadiram o comitê da tendência petista e, protegidos pelos capacetes, chegaram anunciando o assalto. “Queremos falar com o ‘seu’ Birá. Ele é que tem o dinheiro”, gritaram os homens. Estavam na sala o padre Nelson Magalhães, candidato do PT em 2008 à prefeitura de Bragança, uma secretária de Birá e o militante conhecido por Pedrinho, da região do Marajó. Birá é o apelido de Jax Nildo Aragão Pinto, assessor direto de Puty, um dos cardeais da DS, que controla o governo.

Com os gritos dos invasores, Birá desceu do segundo andar da casa e entregou R$ 18 mil nas mãos deles. No começo do assalto, ao falar o nome do chefe do comitê e apontá-lo como “o homem do dinheiro”, os motoqueiros deixaram no ar a certeza de que a missão não era apenas desfalcar o caixa da DS, mas interromper uma fraude eleitoral.

Birá, segundo a mesma fonte do PT, estaria distribuindo dinheiro para caravanas de eleitores petistas quitarem inadimplências partidárias e se tornarem aptos ao processo de eleição direta nos municípios, que ocorreu no domingo passado, 22.

Não há registro policial do assalto e a DS, de onde foram levados R$ 18 mil, não possui receita própria. A ala petista distribui um jornalzinho onde veicula seu proselitismo político.

Por toda a última sexta, Birá foi procurado pelo DIÁRIO para contar sua versão dos fatos. Na Casa Civil, onde trabalha, a informação era de que ele “estava em reunião”. Durante a tarde e começo da noite, ele permanecia em “reunião”, desta vez com Puty. Birá não retornou a nenhuma ligação no celular dele feita pelo jornal.

Candidatos afirmam que eleições devem ser anuladas

Procurado pelo DIÁRIO, o professor João Cláudio Arroyo, que disputou no domingo o comando petista do diretório municipal de Belém, declarou que denúncias nesse sentido surgiram sem que fossem apuradas, o que o levou a supor que não tinham uma importância capital para determinar o destino democrático do partido.

Nos últimos dias da campanha pelos diretórios, porém, Arroyo ouviu vários depoimentos que davam conta desde o desconhecimento da pessoa ter se filiado até a oferta de quitação da anuidade do filiado por candidatos e candidatas concorrentes.

A reação de Arroyo foi se retirar do pleito após receber a informação de que teria havido um acordo, sem ter sido consultado, para liberar o transporte de eleitores e a quitação em massa. Duas práticas “proibidas pelo regimento eleitoral do PT”.

Ele acredita que, do ponto de vista da legalidade partidária, os métodos usados pela maioria dos candidatos preenchem plenamente todas as justificativas para a anulação do pleito, particularmente em Belém. “Um processo que seria mais um grande desgaste ao partido, mas necessário para promover o respeito aos que, como nós, mantêm as mãos limpas”.

ESCÂNDALO

Outro petista que tem manifestado publicamente sua discordância sobre os métodos usados por colegas na eleição em Belém é Almir Trindade. Para ele, são coisas “escandalosas, escancaradas, uma coisa absurda”, conforme afirmação ao blog Espaço Aberto. Trindade ficou em quarto lugar, com 638 votos.

Trindade conta que recebeu várias denúncias de irregularidades e de práticas que o PT sempre condenou. E cita “filiação e quitação em massa, compra de votos, micro-ônibus e vans para transporte de eleitores e cooptação de lideranças a peso de emprego no governo do Estado”.


Fonte: www.diariodopara.com.br

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