segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

PEDRO PAULO COMENTOU

Sobre a mensagem de Natal e fim de ano do blog, publicada na semana passada, o amigo Pedro Paulo Sousa enviou o seguinte comentário:


A velha e a nova humanidade são ainda uma e a mesma coisa?

Confesso que tentei, mas não passei da página trinta e três. Durante alguns anos cheguei a adotá-lo até como minha leitura natalina, e nada. A bela e inicial descrição da Santa Ceia foi um grande início, mas parei por ali. O Evangelho segundo Jesus Cristo ainda está guardado, mas, agora, motivado pela leitura de Caim, pretendo desempoeirá-lo em breve. Talvez eu tenha encontrado aí a cronologia adequada, a forma correta de ler, como que a me lembrar que o novo deve sempre suceder o velho.

No natal, como se sabe, parece que aumenta a solidariedade entre as pessoas. Neste, quando meio mundo, sob pretexto de comemorar um aniversário empanturra-se de quase tudo, fazendo a alegria da indústria e do comércio, a leitura do último romance do premiado Saramago trouxe-me muitas e boas reflexões.

Em apenas 172 páginas, sob o fio condutor da ótica judaico-cristã, passando do Gênesis ao Dilúvio, Saracaim como que reconta a desumana história dos humanos, deixando evidente a estranha relação do Criador com a humanidade. Apresenta as escrituras judaico-cristãs como uma espécie de catálogo de vinganças, humanas e divinas, aplicadas sempre em nome de Deus.

Pilar, a companheira e tradutora de Saramago, diz que o essencial em Caim é “que o género humano não é de fiar. Sim, os seres racionais, os que levantam edifícios, constroem pontes e compõem sinfonias, esses mesmos que declaram guerras por um território, por um capricho, por uma bandeira ou por um Deus nasceram loucos e loucos continuam a viver tantos milénios depois de Adão e Eva ou do Big Bang, chame-lhe cada um o que queira”.

Fiquei com a impressão que, para Saracaim, parece que o mal não está em Caim, muito menos em Abel, mas no injusto e rancoroso Deus, que a todos busca manipular. Ou seja, está na humanidade, que ao criar Deus projeta na divindade os seus próprios atributos.

Saracain, ao final da última página, opina que a “história dos homens é a história de seus desencontros com deus”, pois, “nem ele nos entende nem nós o entendemos”.

E embora Caim não seja um texto contra Deus, mas talvez contra os homens que o inventaram, não deverá faltar quem o veja como oriundo do maligno. Quem tiver coragem de abalar a sua fé no Criador, que o leia!

Seria Caim mais um ensaio sobre a cegueira humana?

seupedro2@yahoo.com.br

26 de dezembro de 2009 12:29

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