Depoimentos de Manuel Bulcão, Manuel Dutra e Carlos Boução relataram fatos inéditos e ajudaram a resgatar uma memória recente da política brasileira
A Comissão da Verdade dos Jornalistas do Pará ouviu, em sua segunda audiência pública, no dia 24 passado, os jornalistas Manoel Bulcão, Manuel Dutra e Carlos Boução. Foram depoimentos emocionados e emocionantes de uma história que ainda será contada a partir dos fragmentos que se recolhe. Testemunhos oculares de um tempo de trevas em que a liberdade virou sonho e esperança.
Manoel Bulcão, hoje aos 80, começou a carreira na Folha do Norte, em 1953, onde permaneceu até 1968. Durante a ditadura, integrava a lista de inimigos do regime militar. Quando veio o AI-5, foi proibido até de sair da redação. Considerado subversivo, foi preso seis vezes e respondeu a três processos. Nem sabia por que, mas era só um general presidente da República vir ao Pará, lá ele ia preso. Talvez por medida de segurança, contou. Teve um dia em que, por falta de viatura, precisou desfilar a pé, preso, na via pública, a caminho do quartel. Na rua, sua mulher testemunhou a cena, evidentemente, muito sofrida.
Com os olhos marejados pela emoção das lembranças, Bulcão encerrou seu depoimento afirmando que se questiona se valeu a pena tanto sofrimento, porque vê muita gente que, na época da ditadura militar, pareceu ter feito um investimento futuro, tão bem essas pessoas estão hoje. Momento forte que repercutiu fundo nos presentes.
Manuel Dutra, jornalista, professor da UFPA e UFOPA, estudou jornalismo em Recife, na Universidade Católica de Pernambuco, onde, ainda como membro do Diretório Acadêmico, sentiu o peso do AI-5 no dia em que o muro em frente à Faculdade amanheceu pichado com os nomes dos considerados subversivos, o seu inclusive. Como sabia que a ameaça era para valer, decidiu dar um tempo em Santarém, sua terra natal, onde começou a trabalhar na Rádio Rural, dirigida pelos padres da igreja católica. Era 1969.
Em Santarém, Dutra foi chamado duas vezes ao Comando Militar, mas não foi preso, embora também tenha sido interrogado e sob a justificativa de que às 6h da manhã a rádio transmitia programação obscena. Como era um padre que rezava a Ave Maria, impossível tal conduta. A explicação: o zeloso militar achava que, no trecho “bendito é o fruto do vosso ventre”, “ventre” era um palavrão(!).
Carlos Boução, jornalista formado e forjado no seio da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, onde começou como distribuidor e testemunhou os momentos dramáticos da invasão da gráfica Suyá, que imprimia o jornal "Resistência".
Naqueles anos de chumbo, lavradores, profissionais liberais, funcionários públicos, estudantes, religiosos, operários da construção civil e gráficos ousaram criar uma Ong, a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), cujo nome do jornal já dizia a que vinha: “Resistência”, uma temeridade.
Era o tempo das lutas pela anistia aos presos políticos, de liberdade de expressão e pensamento. Tempo de discutir as propostas de Assembléia Nacional Constituinte, que só viria dez anos depois. Era também o tempo em que o governo militar controlava a vida de todo mundo.
Para ler mais, http://uruatapera.blogspot.com.br/2013/05/comissao-da-verdade-dos-jornalistas-do.html?spref=fb
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