A revista Isto É Independente publicou, no dia 4 de abril, um artigo de Lonardo Attuche que, descontextualizado, mais se parece com um daqueles panfletos nacionalistas muito comuns nos anos 80. Mas, em meio à violenta crise financeira atual, e considerando os megainteresses que estão em jogo neste momento e, considerando, ainda, as gigantescas riquezas do subsolo brasileiro, principalmente na Amazônia, vale a pena ler o texto com atenção.
O MINÉRIO É NOSSO?
Na semana passada, o governo federal gastou uma pequena fortuna publicando anúncios em jornais internacionais, como o The Wall Street Journal, para exaltar as maravilhas da economia nacional. Num dos textos, dizia-se que o ferro das montanhas brasileiras é o "caviar" do mundo mineral. Sem ele, não se faz aço de boa qualidade. Mas o mesmo governo, que é bom de propaganda, pode estar fechando os olhos para a entrega, de bandeja, desse caviar aos empresários chineses. Na semana passada, o bilionário Eike Batista anunciou que pretende vender sua mineradora, a ainda pré-operacional MMX, a siderúrgicas da China.
Numa conferência com investidores, disse que eles virão correndo para cá porque acabam de ser barrados numa outra aquisição - a Chinalco pretendia comprar a Rio Tinto, mas a sociedade australiana é contra.
Condenar investimentos externos em plena era da globalização pode parecer conversa de dinossauro, mas não é bem assim. Países muito mais liberais do que o Brasil, como a Austrália, o Canadá e o Chile, tratam suas minas, que geram boa parte das reservas internacionais, como um ativo estratégico - e não permitem que elas caiam em mãos inimigas.
Além de poderem perder a Rio Tinto, os chineses também não conseguiram levar a canadense Noranda, em 2004. E a razão do veto foi sempre o chamado "interesse nacional", por mais combalida e piegas que seja a expressão. No caso brasileiro, a venda de grandes jazidas de ferro aos chineses seria ainda mais nociva. Neste exato momento, as siderúrgicas de lá tentam obrigar a Vale a reduzir em 40% o preço do minério, um produto que garante 10% das exportações nacionais.
Eike Batista, que se tornou o homem mais rico do Brasil vendendo projetos, segue sempre um padrão e não tem nenhuma obrigação de agir de acordo com os interesses nacionais. Com um bom mapa de oportunidades no setor mineral, ele foi ao mercado de capitais e levantou bilhões. Mas o que ninguém esperava era que, em tão pouco tempo, a sua "mini-Vale" pudesse se tornar uma empresa de olhos puxados. Se isso de fato acontecer, não é preciso ser um gênio para adivinhar o que ocorrerá com o "caviar" brasileiro. O minério nacional terá seus preços aviltados e subsidiará a siderurgia chinesa. Esta, por sua vez, subsidiará a indústria local de carros, fogões e geladeiras. E o Brasil, além de perder competitividade num dos poucos mercados em que é líder global, terá ainda menos condições de concorrer com os chineses em outros setores. Depois desse insano ato de lesa-pátria, não haverá propaganda no The Wall Street Journal que resolva.
Eike Batista quer dar de bandeja aos chineses um pedaço nobre do nosso subsolo
Lonardo Attuche
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