quinta-feira, 9 de abril de 2009

DAWKINS: "ELES ACREDITAM NA CRENÇA!"

Semana Santa, Páscoa, um dos períodos do calendário cristão mais importantes para cerca de 33% dos habitantes da Terra - se não o mais importante.
Os mais ortodoxos impõem-se uma série de restrições não comuns no dia-a-dia, como o jejum e o silêncio. Os mais flexíveis apenas vão à igreja para as cerimônias mais tradicionais. Outros, nem isso.
Para cerca de 18% de habitantes do pleneta, essas datas e seus significados perderam a importância de antes, ou simplesmente nuca tiveram qualquer papel relevante em suas vidas.
Mas é inegável que a religião sempre teve alguma importância na vida da esmagadora maioria dos humanos, desde os primórdios das civilizações - inclusive dos nossos índios tupininquins - até hoje.

Para contribuir nas inevitáveis reflexões do período, apresento aos leitores do blog algumas palavras frases de Richard Dawkins, um dos mais polêmicos escritores atuais. Ele fala sobre o papel e a importância da religião na vida das pessoas. Inclusive na dele.
Não é necessário acreditar nelas. Apenas leia e, se julgar necessário, comente-as.

“A religião, em várias épocas, já foi considerada o elemento que supre quatro papéis principais da vida humana: explicação, exortação, consolo e inspiração. Historicamente, a religião aspira explicar nossa própria existência e a natureza do universo em que vivemos. Com exortação refiro-me à instrução moral sobre como devemos agir...”

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“Muita gente que admite que Deus provavelmente não existe, e que ele não é necessário para a moralidade, ainda recorre ao que frequentemente considero um trunfo: a suposta necessidade psicológica ou emocional de um deus. Se você tirar a religião,as pessoas perguntam, com truculência, o que vai colocar no lugar? O que você tem a oferecer aos pacientes que estão morrendo, aos pacientes enlutados, às pessoas que têm em Deus seu único amigo?

A primeira coisa a dizer em resposta a isso é algo que nem deveria precisar ser dito. O poder de consolo da religião não a torna verdadeira. Mesmo que fizéssemos essa enorme concessão; mesmo que fosse demonstrado de forma conclusiva que a crença na existência de Deus é absolutamente essencial para o bem-estar psicológico e emocional humano; mesmo que todos os ateus fossem neuróticos desesperados levados ao suicídio por uma angústia cósmica infinita – nada disso contribuiria nem com um pingo de prova de que a crena religiosa é verdadeira. Poderia ser evidência a favor da vantagem de se convencer de que Deus existe, mesmo que ele não exista. Acreditar em Deus e acreditar na crença são coisas diferentes: a crença de que é desejável acreditar, mesmo que a crença em si seja falsa: “Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade” (Marcos 9, 12)”.

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“Não chega a ser exagero dizer que a maioria dos ateus que conheço disfarça seu ateísmo atrás de uma fachada religiosa. Eles não acreditam em nada sobrenatural, mas possuem um ponto fraco indistinto para a crença irracional. Acreditam na crença”.

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“De qualquer maneira, minha concessão hipotética foi extravagante e equivocada. Não sei de nenhuma evidência de que os ateus tenham qualquer tipo de tendência para a depressão movida pela infelicidade e pela angústia. Alguns ateus são felizes. Outros são uns desgraçados. Do mesmo jeito, alguns cristãos, judeus, mulçumanos, hindus e budistas são uns desgraçados, enquanto outros são felizes. Pode ser que haja evidências estatísticas quanto à relação entre felicidade e crença (ou descrença), mas duvido que seja um efeito considerável, num ou noutro sentido. Acho que é mais interessante perguntar se existe um bom motivo para sentir-se deprimido quando se vive sem Deus”.


Richard Dawkins, em “Deus, um delírio”. Companhia das Letras, 2007


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