terça-feira, 13 de abril de 2010

BELO MONTE, AVATAR E A REALIDADE

O advogado e presidente do PV no Pará, José carlos Lima da Costa, publicou em seu blog (http://zecarlosdopv.blogspot.com/) o texto com o título acima e me enviou cópia. O texto é muito bom, levanta questionamentos pertinentes e aponta horizontes novos ao debate sobre o projeto de construção do aproveitamento hidrelétrico (AHE) Belo Monte, no rio Xingu, em Altamira, aqui no Pará. Vai, certamente, estimular o bom debate.

Segue, abaixo, o texto integral:


Para começo de conversa, sou contra a concepção de mega-usinas de energia e creio que não vamos chegar a lugar nenhum se não pararmos esta corrida de consumo voluptuoso de recursos naturais. Mas, não posso me furtar em dar uma palavra sobre o protesto feito ontem em Brasília contra Belo Monte.

Quem é, e o que pensa sobre meio ambiente e energia James Cameron? Quem eram as pessoas que estavam lá? Quais os pontos discordantes deles? Qual a saída que apresentam?

James Cameron é um cineasta de origem canadense que se notabilizou por utilizar tecnologia em seus filmes como O Exterminador do Futuro, Aliens, Titanic e Avatar. Cameron perdeu o Oscar para sua ex-esposa Kathryn Bigelow que dirigiu o filme Guerra ao Terror. A ficção perdeu para realidade.

No caso de Belo Monte, James, como um bom diretor de filme de ficção, perde novamente para realidade. Em um palanque não dá para dizer muita coisa, mas na entrevista que concedeu a VEJA, Cameron diz que “a solução para salvar nosso planeta passa pelo uso de tecnologia. Por isso, penso que, antes de construir uma hidrelétrica como a de Belo Monte, no Pará, por exemplo, o governo brasileiro poderia buscar outras saídas para atender à necessidade de energia do país”.

Traduzindo as palavras do cineasta para realidade, a única tecnologia existente no mundo capaz de produzir onze mil megawatts de energia são as usinas nucleares, bem ao gosto tecnológico e futurista de Cameron, mas que os ambientalistas que babaram por ele em Brasília têm pavor de pronunciar a palavra, pois se lembram de Chernobyl. James nunca iria dizer claramente que é a favor de energia nuclear, pois prejudicaria sua imagem junto aos europeus.

As pessoas que foram a Brasília eram pessoas de muitas regiões do Brasil. Um pouquinho daqui, um pouquinho dali, mas muito pouco daqui da Amazônia e muito menos de Altamira, local onde será construída a Hidrelétrica. Digo isso não para desqualificar a iniciativa dos organizadores do evento, mas apenas para dizer que é preciso ganhar a população local para as teses contraria a Belo Monte. Vamos discutir abertamente com o povo do Pará. O povo é inteligente e se explicarmos
direitinho, em uma linguagem que entendam, apoiará nossas bandeiras. Por que não tentam isso?


As pessoas que se manifestaram até agora (que me desculpem se estiver errado na interpretação dos seus movimentos) estão contra Belo Monte. Se isso é verdadeiro, porque não dizer com todas as letras. Que mal há nisso? Não dá é para ficar sofismando. Dizem que o povo não foi ouvido. E se for ouvido, acaba resistência? Claro que não. Então, gente, vamos mobilizar a população e dizer: não queremos uma barragem, seja de que tamanho for, com que tecnologia e condicionantes forem apresentadas. É mais transparente e mais educativo.

Para responder a última pergunta deste texto volto à entrevista de James Cameron. VEJA perguntou: Na construção de um projeto como o de Belo Monte há duas forças legítimas em conflito: o desenvolvimento econômico e a defesa do ambiente. É possível conciliar os dois, desde que se encontre um meio-termo. Em Avatar não existe o meio-termo. Por quê? James Cameron respondeu: A solução moderada provavelmente não é a melhor solução. Imagine um caçador sufocando um animal aos poucos. Ele aperta o seu pescoço, depois solta só um pouquinho – e assim sucessivamente até que o animal para de respirar. Quando a civilização bate de frente com a natureza, não dá para ter meio-termo. Ou o governo constrói a represa de Belo Monte, ou não constrói.

Na hora de resolver este conflito, concordo, não tem meio-termo. Não devemos ter medo de perder voto dos que querem o “desenvolvimento”, a amizade dos nossos irmãos índios, o prestigio de James Cameron ou a benção do Bispo. Se formos contra a construção do aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte devemos ser verdadeiros e assumir essa posição. Para quem mora aqui no Pará, como eu, é fácil defender um posição contraria, pois Belo Monte para cá é sinônimo de impacto socioambiental, e toda a energia de que precisamos para o nosso desenvolvimento já é produzida em Tucurui. Mas quem mora no sul e sudeste está disposto a abrir mão do seu consumo diário de energia? Você ai que tem uma televisão em cada quarto, dois celulares para cada membro da família, computador, split, aquecedor, chuveiro elétrico, elevador, cerca elétrica de proteção, rádio... Está disposto a abrir mão de parte dessa parafernália tecnológica tipo Avatar? Você que está passeando no Ibirapuera ou na Lagoa Rodrigo de Freitas pense como seria a sua vida sem energia?

Saibam que Belo Monte é energia para o Brasil e impacto para nós aqui do Pará. É um preço altíssimo que o Brasil nos impõe. Belo Monte nem imposto gera aqui. Os artistas do Rio de Janeiro que defenderam o pré-sal precisam defender os nossos direitos amazônicos, pois a energia de Belo Monte gera imposto no consumo e não na produção.

Desafio as pessoas a um debate sincero, com todas as condicionantes na mesa. Belo Monte não é uma opção boa para governo e oposição. Mas qual é a opção boa que existe numa sociedade de consumo voluptuoso? O caminho está na construção de uma nova civilização baseada na solidariedade universal entre todos os seres.

Amazônia, Pará, Belém, 13 de abril de 2010

José Carlos Lima - Coordenador do PV na Amazônia e Presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB-Pará.

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