A camada do pré-sal já foi manchete, polêmica e até bandeira da próxima campanha presidencial. Apesar dos bilhões de barris de petróleo alardeados pelo governo, que estão supostamente encobertos por espessas camadas de sal abaixo do leito do mar brasileiro, muito do que se falou até hoje são meras conjecturas. O que realmente significa o pré-sal para o país? Como essa riqueza será explorada? Quais são as garantias de que a extração de petróleo nessas áreas é um bom investimento? Essas e outras respostas irão ajudar você a entender a questão.
1. O que é a camada do pré-sal e onde ela está situada?
É uma porção do subsolo que se encontra sob uma camada de sal situada alguns quilômetros abaixo do leito do mar. Acredita-se que a camada do pré-sal, formada há 150 milhões de anos, possui grandes reservatórios de óleo leve (de 28º API – óleo de melhor qualidade e que produz petróleo mais fino). De acordo com os resultados obtidos através de perfurações de poços, as rochas do pré-sal se estendem por 800 quilômetros do litoral brasileiro, desde Santa Catarina até o Espírito Santo, e chegam a atingir até 200 quilômetros de largura.
2. Qual é o potencial da exploração de pré-sal no Brasil?
Estima-se que a camada do pré-sal guarde o equivalente a cerca de 100 bilhões de boe (medida que inclui óleo e gás). O número supera em mais de cinco vezes as reservas atuais do país, da ordem de 12 a 14 bilhões de boe. Só no campo de Tupi (porção fluminense da Bacia de Santos), de acordo com análises de testes de formação, estima-se que haja entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo, isto é, o suficiente para elevar as reservas de petróleo e gás da Petrobras em 40% a 60%. Soma-se a isso o fato de que a Petrobras é uma das empresas pioneiras no tipo de perfuração exigida para essa extração.
3. Quanto representa esse potencial em nível mundial?
Caso a expectativa seja confirmada, o Brasil ficaria entre os seis países que possuem as maiores reservas de petróleo do mundo, atrás somente de Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Emirados Árabes.
4. Como o Brasil vai explorar essa riqueza?
A grande polêmica está justamente na tecnologia que será necessária para a extração. Ainda não se sabe, por exemplo, o que será preciso para retirar o óleo de camadas tão profundas e muito menos se o país dispõe desses recursos. Tupi, por exemplo, a parte que realmente interessa na área do pré-sal, encontra-se a 300 quilômetros do litoral, a uma profundidade de 7.000 metros e sob 2.000 metros de sal. É de lá e dos blocos contíguos que o governo espera que vá jorrar aproximados 50 bilhões de barris de petróleo. Além disso, não se sabe se a real quantidade de petróleo no pré-sal irá compensar os custos tecnológicos.
5. Quanto deverá custar o projeto?
Devido à falta de informações sobre os campos, ainda é muito cedo para se ter uma estimativa concreta de custos. No entanto, alguns estudos já dão uma idéia do tamanho do desafio. Uma pesquisa elaborada pelo banco USB Pactual, por exemplo, diz que seriam necessários 600 bilhões de dólares (45% do produto interno bruto brasileiro) para extrair os 50 bilhões de barris estimados para os blocos de exploração de Tupi, Júpiter e Pão de Açúcar (apenas 13% da área do pré-sal). A Petrobras já é mais modesta em suas previsões. Para a companhia, o custo até se aproxima dos 600 bilhões de dólares, mas engloba as seis áreas já licitadas em que é a operadora: Tupi e Iara, Bem-Te-Vi, Carioca e Guará, Parati, Júpiter e Carambá.
6. Há alguma garantia que justifique o investimento?
Ainda não existe na área do pré-sal uma única gota de petróleo que possa ser classificada como “reserva provada”, ou seja, quantidade de petróleo de cuja existência se tem certeza e que seja passível de extração. O que se encontrou até agora foram indícios em diferentes pontos do litoral. Já foram perfurados poços das três bacias que compreendem o pré-sal: a do Espírito Santo (ES), a e Campos (RJ) e a de Santos (RJ, SP, PR e SC).
7. Quando haverá uma perspectiva mais concreta?
A Petrobras e seus sócios internacionais agendaram para março de 2009 o primeiro Teste de Longa Duração (TLD) no campo de Tupi, a grande aposta do país no pré-sal. A partir de então, a previsão é de que o campo produza 30.000 barris diários de petróleo.
8. Quais são os riscos desse investimento?
Fora o risco de não haver os alardeados bilhões de barris de petróleo no pré-sal, a Petrobras ainda poderá enfrentar outros problemas. Existe a chance de a rocha-reservatório, que armazena o petróleo e os gás em seus poros, não se prestar à produção em larga escala a longo prazo com a tecnologia existente hoje. Como a rocha geradora de petróleo em Tupi possui uma formação heterogênea, talvez também sejam necessárias tecnologias distintas em cada parte do campo. Além disso, há o receio de que a alta concentração de dióxido de carbono presente no petróleo do local possa danificar as instalações.
9. Onde será usado o dinheiro obtido com a exploração?
Uma das principais promessas do governo com relação ao pré-sal é de que irá aplicar seus dividendos na área da Educação. Mas já se falou de tudo, desde usar o dinheiro no combate à miséria até para a construção de um submarino nuclear. Os lucros com a exploração, no entanto, não devem vir antes de 2014.
10. O que acontecerá com os contratos de concessão do local já licitados e assinados?
Embora tenha inicialmente se falado na desapropriação de blocos já licitados na camada do pré-sal, o governo já anunciou que serão garantidos os resultados dos leilões anteriores e honrados os contratos firmados. Porém, não haverá mais concessão de novos blocos à iniciativa privada ou a Petrobrás na área do pré-sal. Ao invés disso, será adotado o regime de partilha de produção, com a criação de uma empresa estatal, mas não operacional, para gerir os contratos de exploração.
11. O que é unitização e por que isso está sendo cogitado?
A unitização é um acordo de gerenciamento compartilhado entre as concessionárias de diferentes áreas em casos de as reservas de dois ou mais blocos serem ligadas, em decorrência de uma maior extensão dos reservatórios para além dos limites licitados pela ANP. Esse recurso, previsto em lei, foi trazido à tona, pois ainda não se sabe se na área de 14 mil quilômetros quadrados já concedida, onde estão os blocos de Tupi, Júpiter e Carioca, entre outros, existe apenas um campo gigantesco e contínuo de petróleo. Nesse caso, a União terá direito a parte da exploração, pois as áreas limítrofes a esses blocos ainda não foram concedidas.
Fonte: Veja.com
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