O corre-corre profissional, o cúmulo de afazeres, além das preocupações cotidianas, um pouco de cada coisa acaba por nos desconcentrar de tarefas importantes, como a de ler e repartir com os amigos e eleitores o gosto pelas belas poesias. Neruda, Augusto dos Anjos, Vinícius estão entre os prediletos.
Selecionei as duas abaixo, ambas de Neruda, para embalar os encontros que cada um terá, hoje, depois de mais uma semana de trabalho.
Deliciem-se e bom final de semana.
JÁ ÉS MINHA
Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura
como âmbar dormido...
Nenhuma mais, amor, dormirá com meus sonhos.
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.
Sempre viva. Sempre sol. Sempre lua.
Já tuas mãos abriram os punhos delicados e
deixaram cair suaves sinais sem rumo.
Teus olhos se fecharam como duas asas cinzas,
enquanto eu sigo a água que levas e me leva.
A noite, o mundo, o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti senão apenas teu sonho...
ANTES DE AMAR-TE
Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas;
Nada contava nem tinha nome;
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
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