O MST deve ser investigado ou não? O blog defende o sim.
O convite para a cerveja está aceito, mas não posso mais degustá-la, pois abracei uma outra luta: contra o diabetes. Agora só as destiladas, e moderadamente.
Já estou em Belém. Vou propor uma data para esse encontro. Podemos convdar alguns amigos para isso.
Abraços.
Piteira
Por email, e comentando a última nota do blog sobre a segunda proposta de criação, pelo Congresso Nacional, de uma CPI para investigar o caixa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o amigo Waldemar Azevedo enviou o seguinte comentário:
Prezado Piteira, boa tarde!
Volto a escrever para fazer algumas observações sobre a sua colocação no seu blog, que no meu ponto de vista embarca na criminalização deste importante movimento social, que cumpre uma grande tarefa de organizar os pobres, que lutam para quebrar a lógica patrimonialista do estado brasileiro, que no campo tem sua expresão no latifundio, e responsável por diversos crimes contra o povo (quantas lideranças de camponeses e indigenas, assasinadas nos ultimos 30 anos, provavelmente algumas centenas), como se constituiram estes latifundios desreipeitando as comunidades tradicionais das mais diversas formas.
Amigo elles não precisam de tua ajuda direta ou indireta.
Continuo a espera para tomarmos uma cerveja aqui em Belém.
.........................
Waldemar Azevedo
Qua 21/10 15:53
RESPOSTA DO BLOG
Para situar alguns dos leitores do blog, o Waldemar é um velho companheiro das lutas políticas dos efervescentes anos 80. Militamos juntos na Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH) e no jornal Resistência, que cheguei a editar durante dois anos, na companhia do também amigo Jorge Amorim do Nascimento e outros companheiros. Waldemar é casado com a Euniciana Peloso - outra grande amiga daqueles tempos e que há anos não vejo -, mocoronga da gema e irmã dos Peloso da Terra Querida.
Este espaço seria, acho, pequeno para relatar os movimentos que vivemos juntos, na companhia de tantos amigos e companheiros de luta política, como o Humberto e a Iza Cunha, Sérgio Carneiro, João Raimundo, Carlos Boução, João Cláudio Arroyo, Paulo Sérgio e Chiquinho Weyl, Jarbas Vasconcelos, Daniel Veiga, Valmir Santos, Rômulo Paes, Ana Júlia Carepa (sim, ela também), Raul Meireles, Edilza Fontes, Luis Maklouf, Gafanhoto, Luis Braga, Leontina e dona Luzia Miranda... Puxa, éramos tantos!!
Mas vamos ao comentário do Waldemar!
Lembras, Wal, do movimento que criamos pela libertação dos dois padres franceses e os treze posseiros presos no sul do Pará, em 1982? Ou foi em 1981? Criamos o Movimento pela Libertação dos Presos do Araguia (MLPA) e incorporamos a ele bandeiras históricas da luta dos camponeses, como a Reforma Agrária. No auge do movimento, a Polícia Federal invadiu, no início de outubro daquele ano, a sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB Norte II, na época localizada em prédio atrás do Arebispado de Belém, na Cidade Velha, onde também funcionava a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Instituto Pastroral Regional (Ipar), onde eu cursava Teologia. Fui um dos presos naquela tarde, às vésperas do Círio de Nazaré, e acabei processado: "toquei piano", fiz foto com aquela placa de metal no peito, enquadrado em cinco artigos da Lei de Segurança Nacional e só não me compliquei de verdade por causa de um ardil montado pelo advogado José Carlos Castro, homem dos mais inteligentes que conheci.
Junto com a luta pela Anistia, contra a Ditadura Militar, contra a repressão e a tortura, por eleições livres e direta, pela liberdade de imprensa, a prisão dos padres e posseiros incluiu de vez na pauta de nossos movimentos sociais a luta pela Reforma Agrária.
Nossos movimentos sofreram repressões violentas, seja na Praça dom Pedro II e ruas próximas, seja em São Brás, próximo à UFPA ou outros locais públicos onde realizávamos nossas manifestações. Nossas bandeiras eram pela volta da Democracia, pela Liberdadede Expressão e Opinião, pela Vida, mas éramos considerados criminosos e nosso movimentos, ilegais.
Nossas lutas e armas utilizadas eram legítimas, pois vivíamos uma época de exceção. Aceitar pacificamente os ditames dos governos militares e seus vassalos estaduais era acovardar-se, de forma vergonhosa, diante de desafios que representavam clamores da sociedade brasileira. Seria um ato de covardia que nos envergonharia, uma postura vil, indigna. Naquele momento histórico, aquilo era muito mais importante do que defender projetos de partido ou ideologias socialistas ou similares.
Hoje, em pleno Estado Democrático de Direito, depois de um processo constituinte altamente participativo e democrático que resultou na promulgação da Constituição Cidadã, depois da regulamentação de uma infinidade de direitos e garantias coletivos e individuais, em pleno exercício de gestões estaduais eleitas democraticamente pelo voto popular, com os objetivos da Reforma Agrária transformados em política pública dos governos federal e estaduais, manter invasões de terras públicas ou privadas, a violência e a intimidação como estratégias para alcançar metas de um movimento social é vomitar e escarrar sobre todas as conquistas que a sociedade brasileira buscou e alcançou nas últimas três décadas. Não aceitar as regras da Democracia e do estado de Direito é optar pela marginalidade, pela delinquência, pelo crime. Essa foi a opção do MST, e assim deve ser tratado.
As notas que publico no blog sobre as ações do MST são factuais, refletem uma reação indignada de uma enorme parcela da sociedade que não mais aceita ver o dinheiro público financiando atos de violência, vandalismo e criminalidade do MST. O próprio MST se autocriminaliza quando despreza as regras da legalidade de um país hoje democrático, fruto de nossas lutas, e cria suas próprias leis, quando se autolibera para praticar atos criminosos contra segmentos produtivos tão importantes quanto a agricultura familiar.
Se as metas de ações do programa de reforma agrária brasileiro não são cumpridas, se este programa é um fracasso retumbante, se a maioria das famílias assentadas continua tão ou mais pobre do que antes, que o MST e suas entidades madrinhas, nacionais e estrangeiras, recorram à Lei e aos organismos democráticos institucionais do País. As cenas de invasão de uma fazenda em São Paulo, no início deste mês, de destruição de milhares de pés de laranjas, de vandalização de tratores e máquinas, de saque e roubo de bens da propriedade, revoltaram o Brasil. Até o mais indiferente dos brasileiros, mesmo os simpatizantes da bandeira da Reforma Agrária, chocaram-se com tamanha violência e barbárie.
O MST renunciou à luta pela Reforma Agrária. Os objetivos de seus líderes agora são outros: lutam por uma ideologia política e historicamente superada, que se mistura com o oportunismo, com a Lei de Gerson. Viraram prifissionais da pseudo reforma agrária (com iniciais minúsculas, mesmo), técnicos qualificados da fábrica de invasões - assim como nas invasões de terras urbanas, comandadas por uma corja de oportunistas, os únicos a se darem bem com a venda de lotes. Claro que entre eles ainda há líderes sinceros, honestos de princípios, mas também é inegável que a maioria, já há algum tempo, usa ordas de miseráveis arregimentados na periferias das cidades como massa de manobra para seus interesses escusos.
Meu amigo Wal, sou favorável, sim, à instalação e funcionamento de uma CPI para investigar o caixa do MST. É preciso saber exatamente de onde vem toda essa dinheirama que abastece as ações criminosas promovidas pelo comando delinquente desse movimento e outros movimentos similares. E acho que o PT e outros partidos de esquerda, se sinceros e coerentes aos princípios que sempre defenderam, deveriam apoiar essa proposta. De igual forma o governo Lula, a não ser que o óbvio seja mais ululante do que já se imagina.
Acho que escrevi demais, Wal, mas foi necessário para expor a coerência entre o que penso hoje e o que pensei e pelo que lutei anos atrás. Eu prefiro errar pelo excesso de zelo, não pela omissão.
O debate se mantém aberto. Vamos conversar. Este é um dos propósitos deste blog.
Prezado Piteira, boa tarde!
Volto a escrever para fazer algumas observações sobre a sua colocação no seu blog, que no meu ponto de vista embarca na criminalização deste importante movimento social, que cumpre uma grande tarefa de organizar os pobres, que lutam para quebrar a lógica patrimonialista do estado brasileiro, que no campo tem sua expresão no latifundio, e responsável por diversos crimes contra o povo (quantas lideranças de camponeses e indigenas, assasinadas nos ultimos 30 anos, provavelmente algumas centenas), como se constituiram estes latifundios desreipeitando as comunidades tradicionais das mais diversas formas.
Amigo elles não precisam de tua ajuda direta ou indireta.
Continuo a espera para tomarmos uma cerveja aqui em Belém.
.........................
Waldemar Azevedo
Qua 21/10 15:53
RESPOSTA DO BLOG
Para situar alguns dos leitores do blog, o Waldemar é um velho companheiro das lutas políticas dos efervescentes anos 80. Militamos juntos na Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH) e no jornal Resistência, que cheguei a editar durante dois anos, na companhia do também amigo Jorge Amorim do Nascimento e outros companheiros. Waldemar é casado com a Euniciana Peloso - outra grande amiga daqueles tempos e que há anos não vejo -, mocoronga da gema e irmã dos Peloso da Terra Querida.
Este espaço seria, acho, pequeno para relatar os movimentos que vivemos juntos, na companhia de tantos amigos e companheiros de luta política, como o Humberto e a Iza Cunha, Sérgio Carneiro, João Raimundo, Carlos Boução, João Cláudio Arroyo, Paulo Sérgio e Chiquinho Weyl, Jarbas Vasconcelos, Daniel Veiga, Valmir Santos, Rômulo Paes, Ana Júlia Carepa (sim, ela também), Raul Meireles, Edilza Fontes, Luis Maklouf, Gafanhoto, Luis Braga, Leontina e dona Luzia Miranda... Puxa, éramos tantos!!
Mas vamos ao comentário do Waldemar!
Lembras, Wal, do movimento que criamos pela libertação dos dois padres franceses e os treze posseiros presos no sul do Pará, em 1982? Ou foi em 1981? Criamos o Movimento pela Libertação dos Presos do Araguia (MLPA) e incorporamos a ele bandeiras históricas da luta dos camponeses, como a Reforma Agrária. No auge do movimento, a Polícia Federal invadiu, no início de outubro daquele ano, a sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB Norte II, na época localizada em prédio atrás do Arebispado de Belém, na Cidade Velha, onde também funcionava a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Instituto Pastroral Regional (Ipar), onde eu cursava Teologia. Fui um dos presos naquela tarde, às vésperas do Círio de Nazaré, e acabei processado: "toquei piano", fiz foto com aquela placa de metal no peito, enquadrado em cinco artigos da Lei de Segurança Nacional e só não me compliquei de verdade por causa de um ardil montado pelo advogado José Carlos Castro, homem dos mais inteligentes que conheci.
Junto com a luta pela Anistia, contra a Ditadura Militar, contra a repressão e a tortura, por eleições livres e direta, pela liberdade de imprensa, a prisão dos padres e posseiros incluiu de vez na pauta de nossos movimentos sociais a luta pela Reforma Agrária.
Nossos movimentos sofreram repressões violentas, seja na Praça dom Pedro II e ruas próximas, seja em São Brás, próximo à UFPA ou outros locais públicos onde realizávamos nossas manifestações. Nossas bandeiras eram pela volta da Democracia, pela Liberdadede Expressão e Opinião, pela Vida, mas éramos considerados criminosos e nosso movimentos, ilegais.
Nossas lutas e armas utilizadas eram legítimas, pois vivíamos uma época de exceção. Aceitar pacificamente os ditames dos governos militares e seus vassalos estaduais era acovardar-se, de forma vergonhosa, diante de desafios que representavam clamores da sociedade brasileira. Seria um ato de covardia que nos envergonharia, uma postura vil, indigna. Naquele momento histórico, aquilo era muito mais importante do que defender projetos de partido ou ideologias socialistas ou similares.
Hoje, em pleno Estado Democrático de Direito, depois de um processo constituinte altamente participativo e democrático que resultou na promulgação da Constituição Cidadã, depois da regulamentação de uma infinidade de direitos e garantias coletivos e individuais, em pleno exercício de gestões estaduais eleitas democraticamente pelo voto popular, com os objetivos da Reforma Agrária transformados em política pública dos governos federal e estaduais, manter invasões de terras públicas ou privadas, a violência e a intimidação como estratégias para alcançar metas de um movimento social é vomitar e escarrar sobre todas as conquistas que a sociedade brasileira buscou e alcançou nas últimas três décadas. Não aceitar as regras da Democracia e do estado de Direito é optar pela marginalidade, pela delinquência, pelo crime. Essa foi a opção do MST, e assim deve ser tratado.
As notas que publico no blog sobre as ações do MST são factuais, refletem uma reação indignada de uma enorme parcela da sociedade que não mais aceita ver o dinheiro público financiando atos de violência, vandalismo e criminalidade do MST. O próprio MST se autocriminaliza quando despreza as regras da legalidade de um país hoje democrático, fruto de nossas lutas, e cria suas próprias leis, quando se autolibera para praticar atos criminosos contra segmentos produtivos tão importantes quanto a agricultura familiar.
Se as metas de ações do programa de reforma agrária brasileiro não são cumpridas, se este programa é um fracasso retumbante, se a maioria das famílias assentadas continua tão ou mais pobre do que antes, que o MST e suas entidades madrinhas, nacionais e estrangeiras, recorram à Lei e aos organismos democráticos institucionais do País. As cenas de invasão de uma fazenda em São Paulo, no início deste mês, de destruição de milhares de pés de laranjas, de vandalização de tratores e máquinas, de saque e roubo de bens da propriedade, revoltaram o Brasil. Até o mais indiferente dos brasileiros, mesmo os simpatizantes da bandeira da Reforma Agrária, chocaram-se com tamanha violência e barbárie.
O MST renunciou à luta pela Reforma Agrária. Os objetivos de seus líderes agora são outros: lutam por uma ideologia política e historicamente superada, que se mistura com o oportunismo, com a Lei de Gerson. Viraram prifissionais da pseudo reforma agrária (com iniciais minúsculas, mesmo), técnicos qualificados da fábrica de invasões - assim como nas invasões de terras urbanas, comandadas por uma corja de oportunistas, os únicos a se darem bem com a venda de lotes. Claro que entre eles ainda há líderes sinceros, honestos de princípios, mas também é inegável que a maioria, já há algum tempo, usa ordas de miseráveis arregimentados na periferias das cidades como massa de manobra para seus interesses escusos.
Meu amigo Wal, sou favorável, sim, à instalação e funcionamento de uma CPI para investigar o caixa do MST. É preciso saber exatamente de onde vem toda essa dinheirama que abastece as ações criminosas promovidas pelo comando delinquente desse movimento e outros movimentos similares. E acho que o PT e outros partidos de esquerda, se sinceros e coerentes aos princípios que sempre defenderam, deveriam apoiar essa proposta. De igual forma o governo Lula, a não ser que o óbvio seja mais ululante do que já se imagina.
Acho que escrevi demais, Wal, mas foi necessário para expor a coerência entre o que penso hoje e o que pensei e pelo que lutei anos atrás. Eu prefiro errar pelo excesso de zelo, não pela omissão.
O debate se mantém aberto. Vamos conversar. Este é um dos propósitos deste blog.
O convite para a cerveja está aceito, mas não posso mais degustá-la, pois abracei uma outra luta: contra o diabetes. Agora só as destiladas, e moderadamente.
Já estou em Belém. Vou propor uma data para esse encontro. Podemos convdar alguns amigos para isso.
Abraços.
Piteira
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