Impressiona, mesmo ao mais convicto dos ateus, a força que tem a imagem de Nazaré sobre os católicos devotos da santa. Com a presença de mais de dois milhões de romeiros, o Círio de Nazaré não é apenas o maior evento católico do mundo: é o que mais impressiona pela fé dos romeiros.
Aos observadores, é impossível não se emocionar com as manifestações de fé dos romeiros, seja pelos pagadores de promessas, seja por aqueles que buscam uma graça, ou mesmo por aqueles que, sem promessa ou pedido, têm veneração pela santa.
Um carrega sobre a cabeça uma miniatura de casa, outro um tijolo, ou uma perna ou braço, ou cabeça de cêra ou gesso. Um outro faz o percurso entre a Catedral da Sé e a Basílica caminhando sobre os joelhos, recebendo a solidariedade de anônimos.
Outros milhares fazem um sacrifício ainda mais doloroso: agarram-se à corda do Círio, exprimidos, sufocados, à beira do desmaio - muitos desmaiam de fato - e assim seguem até a Basílica. Outros milhares acompanham o cordão humano dando água aos romeiros, ou simplesmente jogando água sobre aqueles homens e mulheres. O sofrimenro exposto naquelas faces choca e emociona. O troféu, no final da caminhada, é um pedaço da grossa corda, a ser guardada para sempre como um pedaço do seu sofrimento e da devoção a Nazaré.
Mas também há os oportunistas da fé alheia, políticos que montam palanques ao longo da caminhada, de onde acenam e sorriem aos caminhantes, como se conhecessem a todos. Não vêem aqueles homens e mulheres de ar cansado e sofrido como fiéis, mas como simples eleitores.
Mas, como ninguém é de ferro, todo o sofrimento da caminhada logo foi esquecido com o almoço do Círio, regado a muita maniçoba e pato no tucupi, além, claro, de muita bebida, até que o próximo Círio chegue, no ano que vem.
O Círio de Nazaré é, de fato, a mais importante festa do paraense.
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