O deputado Carlos Martins (PT) apresentou projeto de lei à Assembléia Legislativa do Pará (Alepa) cujo conteúdo é, no mínimo, polêmico. O projeto quer o reconhecimento das “cuias pintadas de Santarém” como parte do patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Pará.
Acontece que as cuias pintadas são, historicamente, identificadas com a cultura e os habitantes do município de Monte Alegre, de acordo com o historiador Arthur César Ferreira Reis (1903-1993). Segundo este, desde o início do já longínquo século XIX que o natural daquele município é carinhosamente chamado de “pintacuia”, justamente pela grande produção de cuias pintadas lá existente. Também por razões históricas e culturais, o alenquerense é tratado de “ximango”, o santareno de “mocorongo”, o obidense de “chupaosso” e o oriximinaense de “espoca bode”.
Na verdade, em tempos mais recentes, todos os municípios do Oeste paraense apresentam produção de cuias pintadas – uns mais, outros menos. Assim, a denominação “cuias pintadas de Santarém” é uma pretensão exclusivista, injusta com os vizinhos e injustificada – a não ser pela motivação puramente eleitoral –, sem balizamento histórico, ainda que justificado pela ótica cultural, mas que expropria os demais municípios de um elemento cultural enraizado na história de todos.
A iniciativa do deputado do PT deverá encher de orgulho os mocorongos, claro, junto aos quais amealha votos desde a campanha anterior, mas que vai exigir dele explicações junto aos eleitores dos demais municípios da região.
O projeto foi aprovado, ontem, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e vai agora à Comissão de Educação, Cultura e Saúde (CECS). Passo seguinte é a votação no plenário da Alepa.
4 comentários:
Caro Piteira.
As cuias pintadas de Santarém são uma tradição centenária. Várias famílias se destacam na pintura destas cuias, entre elas os Fona, os Camargo, entre tantos outros. Não se pode contestar o fato dos montealegresses serem conhecidos por 'pintacuias', até pelo fato de que em toda a Amazônia, comunidades trabalham com este produto natural. Porém o que não se pode contestar é o fato de que as cuias pintadas ganharam maior expressão em Santarém.
Celivaldo Carneiro
Caro amigo Piteira:
Minha irrestrita solidariedade ao povo Montealegrense. Consultei nosso amigo comum Jaime Muriel, pintacuia da gema, que me confirmou a precedência de Monte Alegre na fabricação das cuias pintadas, inclusive citando as localidades de Parissó e Jurunduba como especialistas na confecção dos artefatos. Tirando as picuinhas regionais, reputo como louvável a iniciativa do Deputado mocorongo, exemplo vivo do dito popular “farinha pouca, meu pirão primeiro”, ao tentar valorizar, por força de lei, o artesanato do povo daquela bela região do nosso Estado do Pará.
É verdade, André.
Segundo Arthur Cézar Reis, o mais renomado dos historiadores do Baixo-Amazonas, o termo "pinta-cuia" remonta à segunda metade do século XVIII.
Naquela época, Monte Alegre tinha sua economia baseada na agricultura, na pesca e na pecuária, um perfil que se mantém pouco alterado ainda hoje. Sua produção de cuias pintadas era de tal forma significativa que acabou denominando, inicialmente, os artesãos diretamente ligados à sua produção e, mais tarde, aos nativos locais. E olha que aquele povo tem um orgulho danado de ser chamado de "pinta-cuia"!
E o pinta-cuia Muriel, mesmo sendo um filho um tanto ingrato (ele não volta lá já faz mais de 15 anos, no mínimo), mas amigo dos bons, tem razão: a produção de cuias pintadas ganhou destaque na região do Pariçó, mas hoje quase inexistente.
E o deputado mocorongo, que tentou puxar por demais e de forma indevida a brasa para a sardinha dele, acabou não colhendo, na terra dos pinta-cuias, os votos por ele desejados. E deu no que deu!
Abraços.
Piteira
Queridos, as cuias "pintadas" há que se refere o deputado, são as cuias que ao centro levam as paisagens da vida cabocla, como passaros, paisagens, canoas, é fato que os montealegrenses são conhecidos como pintacuia, porém, a pintura que se refere a eles é apenas a finalização na cor preta das cuias, as verdadeiras pinturas com tinta acrílica no Pará, são conhecidas por ter sido popularizada pela família Camargo Fona e em Santarém não há nenhuma outra referencia de arte a essas cuias, as cuias pintadas são aquelas que recebem o toque artístico da família Camargo Fona, as de Monte Alegre são apenas finalizadas na cor preta.
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