Graves, muito graves, as denúncias feitas, hoje, na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), contra a Superintendência Regional do Incra no Pará, acusada de patrocinar uma série de irregularidades na construção de casas para agricultores familiares de Igarapé-Miri e outros municípios da região do Tocantins.
As denúncias foram feitas por prefeitos, vereadores e agricultores familiares, durante sessão especial proposta pelo deputado Ítalo Mácola (PSDB), mas que acabou transformada em audiência pública pelo presidente da Alepa, deputado Domingos Juvenil (PMDB), que presidiu a sessão, por causa da presença do grande número de participantes e de pessoas interessadas em participar do debate que se criou em torno das denúncias.
Os líderes políticos, comunitários e moradores denunciaram o uso de material de péssima qualidade na construção das casas, que começaram a desmoronar depois de 18 meses. Para cada unidade, o Incra repassou R$ 7 mil, através de uma associação criada às pressas para essa finalidade. O valor repassado à entidade foi mais de R$ 1,3 milhão. Uma “mão misteriosa”, ainda em Belém, sacou quase R$ 200 mil da conta da entidade – e ninguém sabe, ninguém viu.
Em depoimentos ao vivo e também em vídeo exibido durante a sessão, comunitários prefeitos e vereadores da região denunciam que grande parte do dinheiro foi desviada para outras finalidades. Segundo eles, mestres de obra e carpinteiros receberam apenas R$ 600,00 pela construção de uma casa inteira, mas foram obrigados a assinar recibos com o dobro do valor. Outros, sob ameaças, foram forçados ao silêncio. Há pessoas que declararam ter medo de morrer ou sofrer outras represálias. Cenas e ambientes comuns em filmes de Hollywood, anos 40, mostrando as ações de Al Capone e seus capangas.
Os deputados do PT, claro, todos saíram em defesa do Incra e de seu superintendente regional. O deputado Carlos Bordalo (PT) afirmou que tudo não passava de “marolinha”. O líder do Governo, Airton Faleiro, mais inteligente ou mais sensível ao instinto de sobrevivência, afirmou que era preciso investigar as denúncias. Por outro lado, os deputados de oposição amplificaram ainda mais as denúncias dos ribeirinhos.
Elielson Silva, o superintendente do Incra, afirmou, numa primeira intervenção, que até então não tinha recebido qualquer denúncia sobre irregularidades nas ações do programa. E ainda insinuou que, se alguma coisa estava errada nas construções, a culpa era dos próprios moradores. “Por que, então, assinaram documento recebendo as casas”, perguntou, cinicamente. A resposta dos presentes foi uma sonora vaia. Depois, percebendo que estava pisando em campo minado, recuou e afirmou que ”seremos duros, e pedimos que nos apresentem material e denúncias para podermos punir quem esteja praticando alguma irregularidade”. Ele garantiu que as denúncias serão encaminhadas ao Ministério Público e à Polícia Federal. “Doa a quem doer”, concluiu, recorrendo ao velho chavão usado pelo então presidente Fernando Collor de Melo, apeado do Palácio da Alvorada envolto em mar de lama.
O presidente da Alepa, Domingos Juvenil, percebendo a gravidade das denúncias, transformou a sessão solene em audiência pública e nomeou quatro deputados para elaborarem um relatório, “em duas semanas”, com a sistematização das denúncias apresentadas durante a reunião.
É provável que você, leitor, já tenha ouvido casos semelhantes em outras regiões ou municípios paraenses, envolvendo o mesmo Incra, as mesma associações de papel e um bocado de dinheiro, alguns milhões de reais oriundo do Erário, sendo desviado para o bolso de uns espertalhões que, anos atrás, faziam discursos em praças públicas, sobre caixotes de madeira, pregando o fim da corrupção, prisão aos ladrões de dinheiro público, expropriação de bens dos Malufs e Collors da vida... Que se cumpra, então, o que pregavam.
Ah, e também ficavam roucos de tanto falar em ética, transparência pública e respeito à vontade do povo.
Que vergonha!!!
Fonte: Ascom Alepa e redação do blog
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