Sobre o post "Trabalhadores e empresas discutem desenvolvimento", o mocorongo Pedro Paulo, advogado, delegado da Polícia Civil do Pará e amigo de "arquilonga data" (como diria outro velho amigo, Jorge Nascimento), enviou o seguinte comentário:
Quem já se deu ao trabalho e ao prazer de ler a primeira e longa reportagem sobre o Brasil -chamada também de A Carta de Pero Vaz de Caminha -, aquela que serviu para comunicar Vossa Alteza, o Rei de Portugal, sobre o achamento da Ilha de Vera Cruz, no dia 22 de abril daquele já longínquo 1500, pode constatar a fartura de menções às características físicas das nossas gentes, descrevendo-as como pessoas pardas e que andavam com as suas vergonhas totalmente a mostra.
Embora as maiores preocupações fossem mesmo o ouro e a prata para o reino e almas para o cristianismo, o escrivão de Cabral ficou tão vidrado nas cunhantãs desnudas ao ponto de comparar as vergonhas das moças destas paragens com as de Portugal, dizendo que as daqui eram mais graciosas que as de além-mar.
Assim escreveu Caminha em sua empolgação:
“Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas.”
“E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela”.
E por aí vai...
Pois bem. Passados quase quinhentos e dez anos, uma entidade sindical de trabalhadores promove um evento para duscutir a questão mineral. Parabéns! Ações pedagógicas como essa podem fazer a diferença nessa triste história da exploração dos recursos naturais da Amazônida.
Mas, aqui entre nós, a rigor a rigor, há muito que esses "recursos naturais da Amazônia" não são mais da Amazônia e nunca foram explorados para promover o nosso desenvolvimento.
Desde o início quando a questão mineral ganhou a importância que tem hoje revelou-se como um verdadeiro banquete servido ao capital com as migalhas caidas aos amazônidas, tudo isso nas barbas de todos, das gentes e das lideranças de todas as ordens - trabalhistas, estudantis, populares, políticas, religiosas,empresariais e outras que posam existir ou se auto-proclamar.
A nossa geração falhou, pois mal tomou consciência desta rapina diuturna, mal compreendeu este colonialismo que parece estar na raiz da nossa probreza. Se tomou consciência ainda não foi o suficiente para se mobilizar e se opor ao saque.
Caminha continua mandando notícias pro mundo de lá enquanto sangram as veias abertas desta nossa decantanda Amazônia.
Quem sabe as novas gerações não terão mais sorte. A nossa falhou.
seupedro2@yahoo.com.br
Um comentário:
Caro Piteira,
Fiquei muito satisfeito com o comentario do PP.É o primeiro comentário público de um companheiro de esquerda, elogiando a nossa visão.
No entanto, é importante ressaltar que não é de hoje que defendemos a necessidade de "saltarmos os muros da fábrica" e discutir não apenas reinvindicações salariais e sociais para a categoria, mas também colocar em discussão questões relativas à sociedade como um todo, neste sentido chegamos a conseguir a reforma de escolas em barcarena, além de discutir a questão ambiental, muito antes desta virar moda.
Esta ousadia, porém nos custou caro. Tu deves lembrar das tentativas de alguns sindicalistas, marxistas de orelha, de nos linchar políticamente.
Somos e continuaremos vanguarda na luta por melhores condições de vida para a população,e continuaremos a insistir junto às empresas que aqui se instalarem da importância de destinarem uma parcela de seu lucro para beneficiar a sociedade.
Um grande abraço ao amigo pp, e a todo os companheiros que sonham com um amanhã melhor para todos desta terra.
Sulivan Santa Brigida
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