segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

GRINGOS NA AMAZÔNIA - II PARTE

As histórias de como nossa floresta atraiu (e expulsou) quem tentou lucrar com ela.

Imensos recursos, milhões de hectares, billhões de dólares e infinitos problemas. A cada auge capitalista estes superlativos se reúnem na maior floresta do mundo. Eis a glória e e ruína dos megaprojetos de gringos na Amazônia:


JARI – 1967:


Atrás de celulose um bilionário ambicioso botou a selva abaixo. Foi vencido por ela e pelas dívidas.

PERÍODO: 1967-1982.
DIMENSÃO: 16mil km2 – ou 10 cidades de São Paulo.
LOCALIZAÇÃO: entre Pará e Amapá,seguindo o rio Jari.
OBJETIVO: construir um poloagroindustrial, que ficou só na produção de cellulose mesmo.
EXTRAS: infraestrutura para a sede do projeto, Monte Dourado, como hospital, casas e escolas.
POR QUE DEU ERRADO: pressa por resultados e endividamento.
PREJUÍZO ATUALIZADO: US$ 1,2 bilhão

Foi uma supresa quando, em 1967, o empresário americano Daniel Ludwig se tornou proprietário de um dos maiores imóveis rurais do planeta - quase um novo Sergipe, entre Pará e Amapá. Depois de acumular US$ 5 bilhões com a construção de navios e transporte de petróleo, o empresário pretendia erguer um polo agropecuário, trocando a selva por lavoura – o plano que já falhara com Ford.

Mas, enquanto a Fordlândia foi erguida sem interferências, o projeto Jari vivia sob suspeita: esquerda e ditadura se uniam nos receios sobre a soberania nacional. O empreendimento chegou até a ser visitado por uma CPI – como sempre, inconclusiva. A vastidão do projeto chamava mesmo a atenção. Em uma região sem infraestrutura nenhuma, Ludwig mandou construir portos, uma ferrovia, 9 mil quilômetros de estradas. Fez mais: trouxe de barco, do Japão, uma usina termelétrica e uma fábrica de celulose.

Trabalhador com motosserra. Houve denúncias de maus-tratos.

Em 1978, ambas foram rebocadas por 25 mil quilômetros em 53 dias, numa meia-volta ao mundo que ficou famosa na época. Gestos extravagantes como esse, no entanto, escondiam falhas de planejamento. A equi pe de Ludwig parecia ignorar que o solo da Amazônia é pobre. Só vingou o plantio de árvores para produção de celulose. Além disso, não houve preparo para o deslocamento populacional que o projeto fatalmente causaria. O Jari gerou uma cidade, Beiradão, até hoje uma favela sobre palafitas. Como a ilha da Inocência na Fordlândia, ela provia a diverção noturna na qual os funcionários investiam boa parte do salário. Mal alojados, os trabalhadores sofriam com más condições sanitárias e surtos de meningite.


Beiradão, cidade construída para os trabalhadores.

Com tudo dando errado, Ludwig enroscou- se na própria teia financeira. Ele ergueu o Jari à base de empréstimos, mas não conseguiu fazer o seu empreendimento dar lucro a tempo de honrá-los. Sem opção, caiu fora em 1982. Mas o megaprojeto não virou ruína turística como o de Ford. Desde 2000 controlada pelo Grupo Orsa, a Jari Celulose se mostrou viável e sustentável – em 2004, foi certificada pelo Forest Stewardship Council, uma ONG que atesta o bom manejo de florestas.

Fonte: Érica Georgino
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/gringos-amazonia-525438.shtml?func=1&pag=1&fnt=9pt

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