"Nunca esperei que isso fosse acontecer na minha vida, e devo
pedir à minha família para colocar champanhe na geladeira", afirmou
escocês Peter Higgs, 83 anos, físico que propôs a existência do fenômeno
Após anos de espera, imprevistos, problemas técnicos e muito
suor, os físicos do Grande Colisor de Hádrons (LHC, sigla em inglês), maior
acelerador de partículas do mundo, anunciaram a descoberta de uma nova
partícula. E eles acreditam que seja o famoso "bóson de Higgs".
Caso isso seja confirmado, será o coroamento da teoria
científica mais bem-sucedida de todos os tempos - o chamado Modelo Padrão, que
explica como se comportam todos os componentes e forças existentes na natureza,
salvo a gravidade (explicada pela relatividade geral). Contudo, cabe atenção
para a formulação cuidadosa das afirmações dos pesquisadores.
A confirmação da nova partícula é resultado das pesquisas
que têm sido realizadas no maior acelerador de partículas do mundo, o LHC. Em
seu último relatório, no fim do ano passado, eles já sugeriam ter encontrado
algo, mas não descartavam um alarme falso. Agora, eles já cravam
categoricamente a existência da nova partícula. Só não admitem com todas as
letras que se trata da almejada "partícula de Deus".
"Apesar de os eventos [de colisões de partículas no
acelerador] sugerirem que estejamos diante do bóson de Higgs, a confirmação de
que se trata realmente da partícula predita requer mais medidas
comparativas", afirma Sérgio Novaes, físico da Unesp (Universidade Estadual
Paulista) e membro da Colaboração CMS, um dos dois experimentos do LHC que
servem de base para o anúncio.
Ossos do ofício, num esforço que envolve análise de dados de
milhões de colisões de partículas para que, estatisticamente, seja possível chegar
a alguma conclusão definitiva. De toda forma, o novo achado dá toda pinta de
que se trata mesmo do almejado bóson.
O anúncio da descoberta foi feito num evento realizado às 4h
(de Brasília) desta quarta-feira, transmitido ao vivo pela internet da sede do
Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra, Suíça, para a
abertura da 36ª Conferência Internacional em Física de Altas Energias, em
Melbourne, Austrália.
BÓSON DE HIGGS E DEUS
Tecnicamente, a partícula é conhecida como bóson de Higgs.
Mas o outro apelido conferido a ela acabou ficando até mais famoso: partícula
de Deus
A alcunha foi dada pelo prestigiado físico Leon Lederman,
vencedor do Prêmio Nobel em Física, pelo fato de o bóson de Higgs ser a
partícula que permite que todas as outras tenham diferentes massas.
Ele fez uma analogia com a história bíblica da Torre de
Babel, em que Deus, num de seus típicos acessos de fúria, faz com que todos
falem línguas diferentes. Da mesma maneira, o Higgs faria com que todas as
partículas tivessem massas variadas.
O nome pegou, mas a maior parte da comunidade científica
prefere chamar mesmo de bóson de Higgs, para que a brincadeira não distorça o
real significado do trabalho de pesquisa ou atribua a ele alguma conotação
religiosa imprópria.
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