Veículos com no máximo dez anos de uso. Esta foi a exigência criada pela PMMA para a contratação de transporte escolar. Essa seria uma exigência do MEC, mas ela não existe
A Prefeitura de Monte Alegre (PMMA), no Oeste do Pará, não começou as aulas em suas escolas rurais, deixando de cumprir, pela segunda vez, compromisso assumido junto ao Ministério Público e a entidades da sociedade civil local. O último compromisso, assinado no dia 18 passado, foi de que as escolas estariam em pleno funcionamento a partir da última quinta-feira (20/04), mas isso não aconteceu. O promotor de Justiça local, Luciano Augusto da Costa, já foi informado do fato.
A não contratação de prestadores de serviço de transporte escolar está no centro do problema. E a culpa é da própria PMMA, que anunciou uma exigência supostamente legal determinada pelo Ministério da Educação (MEC), mas que não existe. Um blefe!
Em janeiro passado, a nova administração anunciou que as
aulas no município deveriam ser iniciadas no dia 6 de fevereiro. “Tudo está
pronto para começarmos nesse dia”, anunciou Jorge Braga, que coordenou a equipe
de transição de governo, durante reunião no Ministério Público local.
Equívoco
ou má fé – Mas, no interior do município, é impossível haver aulas
se não houver transporte escolar. Este é indispensável. No entanto, a primeira
licitação para o transporte escolar só foi anunciada no dia 20 de fevereiro –
14 dias após a primeira data anunciada para início das aulas –, mas não
apareceram interessados para nenhuma das 117 as rotas.
E não apareceram porque a PMMA anunciou que uma das
exigências era a de veículos com idade de uso de no máximo dez anos – um
equívoco, ou má fé, pois essa exigência simplesmente não existe (leia as
exigências em http://www.idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/conheca-as-regras-para-o-transporte-escolar).
Na verdade, um blefe até agora sem qualquer explicação.
Fracassada a primeira tentativa, houve uma segunda
chamada para o dia 7 de março, de novo com a mesma exigência equivocada, ou de
má fé. E novamente não apareceram os interessados.
Chamada
pública – Sem transporte escolar, as escolas zona rural seguiam
paradas. As da cidade funcionavam desde o dia 6 de março. Somente no dia 17 de
abril, quarenta dias após a segunda tentativa de licitação – por que tamanho
atraso? –, a PMMA votou a tratar do assunto: publicou edital de uma chamada
pública de preços, modalidade de licitação mais simplificada – no caso de Monte
Alegre, participam da disputa de cada rota de transporte escolar apenas os interessados
devidamente cadastrados.
Com estas chamadas públicas, 33 rotas já foram preenchidas,
com contratos de veículos do tipo Kombi e vans, além de barcos e cerca de 50
ônibus. Mas há outras 22 rotas sem veículos definidos, e isso só vai acontecer na
próxima semana. Ontem (21/04), por telefone, o secretário de Educação, Clóvis
Freire, afirmou que considera esse um problema já resolvido. Ele garantiu que
as aulas nas escolas rurais se iniciam na próxima segunda-feira. Mas as
críticas são muitas.
Críticas - “É uma coisa absurda o que está acontecendo com a
educação de Monte Alegre, um descaso sem qualquer justificativa plausível, uma
coisa que nunca aconteceu antes”, afirmou o vereador Jean Vasconcelos (PSDB).
Segundo o vereador, são muitos os transtornos que a falta de
aulas nas escolas rurais está causando a muitas famílias. “Há casos de famílias
se mudaram para a cidade, em busca de vagas em escolas para seus filhos, pois,
sem frequência escolar comprovada, os cartões do Bolsa Família são bloqueados e
a família fica sem renda básica”, denunciou ele.
Marco Aurélio Castrillón, presidente da OAB-PA em Monte Alegre |
“Isso é muito mais grave do que muitos podem imaginar,
pois compromete a vida escolar de milhares de alunos. Espero que isso seja
tratado com rigor pelo Ministério Público”, afirmou Marco Aurélio Castrillón,
presidente da seção da OAB-PA de Monte Alegre. “Por que a prefeitura inventou
uma exigência para a contratação dos veículos, uma coisa que não existe na
regulamentação estabelecida pelo Ministério da Educação, causando esse atraso
de mais de 40 dias no inicio das aulas no interior?”, questiona.
Ensino
médio prejudicado – O atraso na contratação de transporte
público pelo governo municipal teve consequências que alcançaram os estudantes
do ensino médio. Os veículos que transportam os estudantes do ensino fundamental
também atendem aos alunos do ensino médio.
A 6ª Unidade
Regional de Educação (URE), sediada em Monte Alegre, acompanha o imbróglio
criado pela prefeitura local, na expectativa de também mobilizar seus
professores e alunos para o início do ano letivo.
Com o processo travado, apenas as turmas do Sistema de Organização Modular de Ensino (Some) iniciaram suas atividades. Neste modelo, os professores se deslocam à comunidade e lá permanecem enquanto durarem as atividades de cada módulo. Em Monte Alegre, são mais de 500 os alunos do Some.
Com o processo travado, apenas as turmas do Sistema de Organização Modular de Ensino (Some) iniciaram suas atividades. Neste modelo, os professores se deslocam à comunidade e lá permanecem enquanto durarem as atividades de cada módulo. Em Monte Alegre, são mais de 500 os alunos do Some.
Já as turmas do ensino médio regular, que funcionam como anexos de escolas localizadas na cidade de Monte Alegre, elas estão totalmente paradas, aguardando a solução anunciada para o transporte escolar. São outros quase 800 alunos sem aulas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário