O que sou foi moldado por Belém, por sua gente, por seus movimentos políticos e culturais, pelas academias onde estudei, pelo que aqui descobri, pelas experiências que vivi.
Hoje, Santa Maria de Belém do Grão Pará completa 396 anos. Republico, aqui, um texto que fiz em homenagem à "Cidade das Mangueiras", há dois ano atrás. É a minha forma de agradecer à cidade e ao seu povo por tudo o que me ajudaram a ser e a ter.
Devo muito a Belém, que faz aniversário, hoje.
Foi a cidade que escolhi para estudar e que me acolheu, através de centenas de pessoas que aqui conheci naqueles primeiros anos da década de 80, de maneira carinhosa, materna, como acolheu milhares de outros paraenses que vieram do interland.
Aqui cheguei no dia 4 de janeiro de 1980. Cheguei seminarista, na companhia de outros mocorongos que tiveram a proteção de dom Tiago Ryan, nosso então bispo prelado, para virem estudar na capital, que logo soubemos ser “a Cidade das Mangueiras”.
Aqui estudei Teologia, que abandonei depois de quatro anos – há um grupo aqui em Belém de outros “enganadores de bispo” -, depois Ciências Sociais, depois Comunicação Social.
Aqui aprofundei a militância política incipiente que havia iniciado na terra natal. Filiei-me ao PT, no qual militei durante 18 anos, de forma dedicada e apaixonada, mas que depois abandonei levado pela decepção. Depois experimentei a militância sindical, como diretor do sindicato que representa os servidores municipais, cargo que também renunciei por discordar de práticas eticamente condenáveis.
Ainda na raia da política, aqui vivi intensa e maravilhosa experiência como dirigente comunitário, no bairro do Jurunas. Lá, lutamos por moradia – invadimos e conquistamos, em pleno regime militar, uma área usada pela Polícia Militar para abrigar sua Cavalaria, depois transformada em 363 lotes -, por dignidade, por cidadania. Vivi a agradável experiência de sentir o carinho do povo, e também a gratidão.
Aqui militei na Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), no jornal Resistência, no Movimento pela Libertação dos Presos do Araguaia (MLPA), que lutou pela liberdade de 13 posseiros e dois padres franceses acusados de crimes contra a Segurança Nacional.
Aqui conheci o Palácio dos Bares, o São Jorge, o Patesco da Condor, o Rancho Não Posso me Amofinar, Lapinha, São Domingos, Imperial e uma infinidade de locais agradáveis, alegres, com gente igualmente agradáveis e interessantes. Neles fui um notívago.
Aqui constituí família. Aqui conquistei o emprego no qual estou há 26 anos. Aqui me firmei como profissional, jornalista. Aqui construí o modesto patrimônio que possuo. Aqui construí amizades que estão entre as mais importantes de minha vida.
O que sou foi moldado por Belém, por sua gente, por seus movimentos políticos e culturais, pelas academias onde estudei, pelo que aqui descobri, pelas experiências que vivi.
Certamente que eu seria muito diferente do que sou hoje se não tivesse vindo para Belém. Belém me moldou, foi decisiva para definir o que sou. Sou grato, portanto, a esta cidade e sua gente.
Obrigado, Belém! Parabéns pelo teu 394º aniversário!
Que teu futuro e o futuro de tua gente sejam muito melhores, infinitamente melhores, deste presente marcado pela violência, pela criminalidade - especialmente daquelas praticadas por teus parlamentares e governantes, que estimulam outras -, pelo caos no trânsito, pela desordem urbana. Nós, tua gente, merecemos isso.
Obrigado, Belém!