quinta-feira, 20 de julho de 2017

Monte Alegre: ECONOMIA AGONIZA COM RODOVIAS ESBURACADAS


 
 Na PA-423, o leito da estrada está quase que totalmente destruído, com uma sucessão de buracos de vários tamanhos. As viagens são sacolejantes, desconfortáveis e demoradas. Parte da produção agropecuária se perde, causando prejuízos

“São rodovias do prejuízo e da desesperança”, afirmou Valdemar Hutim, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Monte Alegre (Sinpruma), ao se referir às rodovias estaduais PA-423 e PA-254, demonstrado revolta com o estado de abandono em que elas se encontram.

As duas rodovias estão localizadas na sub-região da Calha Norte, no oeste do Pará. A primeira, com extensão de 49 quilômetros, é o principal acesso rodoviário das regiões produtoras de Monte Alegre à sede do município e ao porto de Santana do Tapará, em Santarém, por onde parte da produção local é escoada. A segunda, concebida como “a rodovia da integração”, corta a sub-região da Calha Norte no sentido leste-oeste, fazendo a conexão rodoviária entre os municípios de Prainha, Monte Alegre, Alenquer, Curuá, Óbidos, Oriximiná, Faro e Terra Santa, na região oeste do Pará. Iniciada nos anos 1980, ela segue inconclusa e tem extensão aproximada de 350 quilômetros entre um extremo e o outro.

Estradas sem asfalto e sem manutenção desde o último verão – portanto, há mais de um ano – as duas rodovias estão intrafegáveis em vários pontos. Na PA-423, o leito da estrada está quase que totalmente destruído, com uma sucessão de buracos de vários tamanhos. As viagens são sacolejantes, desconfortáveis e demoradas. Em muitos locais, o que era acostamento virou o leito principal da estrada. Nela, a velocidade média é de 30 km/h. Em apenas dois curtos trechos é possível a velocidade de 60 km/h. A extensão de 49km da rodovia, chega a ser percorrida em mais de duas horas.

Na PA-254, a situação é semelhante. Os veículos que fazer o transporte de cargas e passageiros dos municípios de Alenquer são obrigados a acessar estradas vicinais para escapar dos pontos intrafegáveis. O mesmo acontece com caminhões que fazem o transporte de produtos agropecuários, especialmente bovinos, limão, banana e mamão. Os motoristas, indignados, reclamam de danos nos veículos – e de enormes prejuízos.

Valdemar Hutim,
presidente do STTR
Prejuízos – Valdemar Hutim, presidente do Sinpruma, tem na ponta do lápis os números dos prejuízos. Ele garante que os produtores somam perdas de mais de R$ 2 milhões mensais, especialmente com o transporte de bovinos e de frutas.

“Por causa das viagens mais demoradas e também pelo enorme desconforto imposto aos animais durante o transporte, a perda é de 20kg por animal. Como movimentamos a média de 600 animais ao mês, para exportação ou abate local, esse prejuízo chega a mais de R$ 760 mil”, afirmou Hutim. Segundo ele, já houve casos de tombamento de caminhões boiadeiros, com mortes de animais.

Por causa da péssima condição das rodovias, marchantes e exportadores de animais já se recusam a recolher as reses nas propriedades rurais: exigem a entrega direta nos abatedouros ou entrepostos. “Isso é mais prejuízo aos criadores”, queixa-se o presidente do Sinpruma. Monte Alegre tem o maior rebanho bovino do oeste do Pará, com 230 mil animais. As cidades de Manaus (AM) e Macapá (AP) são os principais mercados para a venda de bovinos do rebanho local.

As perdas na agricultura local também são significativas. Hoje, início da entressafra na produção de limão, Monte alegre está colhendo 110 toneladas/mês do produto, mas quase 30% desse total se perdem durante o transporte. Cerca de 40% das produções de banana (60 ton/mês) e de mamão (400 ton/mês) também se estragam. Com o tomate, a perda chega a 30%.

Vilma Araújo de Sousa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras (STTR) local, confirma os prejuízos também aos agricultores familiares.

“Os produtos que vêm da Serra Azul, por exemplo, especialmente as frutas, chegam batidos e amassados, alguns já estragados, o que só faz aumentar o prejuízo dos agricultores”, afirmou. Serra Azul é a nova fronteira agrícola do município, principal área de produção local de frutas e grãos. Mas não apenas isso. Segundo Vilma, além das viagens mais demoradas e sacolejantes, o desconforto também chega ao bolso dos agricultores familiares. “O preço das passagens e do transporte dos produtos aumentou, e vários caminhões já se recusam a fazer viagens, por causa dos danos nos veículos”.

Segundo a presidente do STTR, em situação semelhante estão as estradas vicinais que cortam os diversos assentamentos agrícolas existentes em Monte Alegre.

Reações – Enquanto os agricultores de Monte Alegre agonizam e parte da produção agropecuária se perde por causa de estradas esburacadas, o poder público não demonstra muita preocupação.

Jardel Vasconcelos (PMDB), prefeito de Monte Alegre, disse que enviou ao governo do Estado, em fevereiro passado, um documento solicitando providências para a restauração das cinco rodovias que cortam o município. Mas, segundo ele, não obteve qualquer resposta, e não voltou a tratar do assunto. A informação foi repassada pela esposa do prefeito, Josefina Carmo.

O Legislativo municipal serviu de palco para debater o problema. No dia 14 de março passado, os vereadores locais aprovaram requerimento que clamou por providências urgentes ao governo do Estado para ao menos minimizar o estado calamitoso em que se encontram as rodovias estaduais no município. O documento foi enviado ao governador Simão Jatene, sem resposta até agora.

O deputado Júnior Hage (PDT), integrante da base de apoio do governo estadual na Assembleia Legislativa (Alepa), informou que a licitação para contratação de empresa para a restauração da rodovia PA-254 já está resolvida. Segundo o deputado, com base em informações repassadas a ele pela Secretaria de Estado de Transporte (Setran), a fase de recursos administrativos nas licitações para rodovias estaduais na sub-região da Calha, já se encerrou. “Vamos começar todas as frentes até o dia 1º de agosto”, garantiu o titular da Setran, engenheiro Kleber Menezes, em mensagem enviada ao parlamentar.

A Setran promete iniciar a restauração das
rodovias  estaduais a partir de 1º de agosto.
Mais uma promessa?
No site da Setran, o órgão informa que, nos municípios de Monte Alegre e Prainha, serão restauradas as rodovias PA-419, PA-423, PA-254, PA-421 (Açucena) e PA-425 (Açaizal), que totalizam 229 quilômetros.

“Vaquinha” – Diante da inércia do governo estadual, proprietários de ônibus que fazem o transporte de passageiros têm agido por conta de seus bolsos. Nos últimos dois anos, pelo menos 5.500 litros de combustível já foram usados em serviços emergenciais de recuperação de pontos críticos nas rodovias estaduais. “Nos últimos dois anos, fizemos ‘vaquinha’ para adquirir combustível e fazer o serviço nas estradas. Foi a forma que encontramos para diminuir os prejuízos que essas estradas nos causam”, afirmou Florêncio Friás, proprietário de ônibus de transporte de passageiros. “Hoje, no entanto, não temos mais condições de fazer coleta para cuidar de responsabilidades que são de outros”, concluiu.

Enquanto uns aguardam as ações do governo estadual e outros já se sentem impotentes para buscar soluções com os próprios recursos, há aqueles que se rendem à desesperança. “Muitos produtores estão vendendo seus lotes, agora muito desvalorizados, porque já não vêm esperança de que esses problemas sejam solucionados”, afirmou Valdemar Hutim, presidente do Sinpruma.

Já o STTR promete reagir. “Vamos aguardar mais um pouco, até o limite da tolerância. Se nada for feito, vamos interditar a rodovia PA-255 e clamar por solução às demais rodovias estaduais em Monte Alegre”, afirmou Vilma Araújo de Sousa. 

Em compasso de espera pelo governo estadual, produtores e agricultores familiares de Monte Alegre, Prainha e de outros municípios da Calha Norte agonizam com prejuízos causados pelas rodovias esburacadas há mais de um ano, mas que foram anunciadas como caminhos para o desenvolvimento regional.

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